terça-feira, 22 de outubro de 2013

MEMÓRIA

É imaginativa a memória,
Assim como uma ficção passada
Também se fia em seu enredo.
Mesmo assim nela confiamos,
Pois assim ela é e tece
A narrativa de nossa vida.
Uma ficção passada
Que se fixa vagamente,
Assim como uma ficção presente
É capaz de alimentar o passado
E chegar até ele
Como iluminação do que ocorreu
Ou ocorreria.
Porém nossa memória é parte nossa
E parte de todos;
Toda memória é nosso coração
E ao mesmo tempo coleção:
É coletiva.
Memória também é desmemória,
É omissão,
E nossa memória é em nossa concepção
Diversa de uma narração
Que não a nossa.
Quem narra nossa memória
Acrescenta, exclui,
E cria outra ficção
Que refigura a nossa.
Nossa memória é outra
Quando é do outro a interpretação.
Por isto também é coletiva:
Porque é volátil o que ela contém
E porque todo homem
Conta com a imaginação.
Nenhum tempo é perdido:
O passado é uma hemorragia do presente,
Do presente nômade
Que se eterniza se recriando
A cada sempre nova mesma aparição. 

Nenhum comentário: