segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro...     
(Mário de Andrade)

O clowncel pintou
Os cabelos de verde.
A mãe não aprovou,
Mas não importa muito.
De noite, faz um jogo
De luz e sombra
Com os postes iluminados
E com as árvores das calçadas:
No claro é Coringa sorrindo,
No escuro é Pennywise
Se transformando em algo
Que o clowncel nunca será
Se o dia amanhecer,
Se lavar o rosto,
Se tirar a tintura,
Se retirar a máscara no espelho
Sempre mascarado,
Fragmentado e traumatizado.
Pennywise, no escuro,
Pensa em como seu pênis
Poderia mutar.
Mas arlequinas
Não existem mais.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

POR AÍ


Cheirou o pó na mão da amiga,
Engoliu a bala na mão da ficante,
Com o psytrance vibrando na mente.
Com a ficante e a amiga
Beijou os beijos triplo, quádruplo,
Quíntuplo, sêxtuplo...
Não foram tão fáceis,
Assim como a sêxtupla camada da realidade
Não apareceu tão definida,
Mas mais como CO2 sublimado.
Se esqueceu se tinha 12, 13, 14, 15, 16 ou 17 anos.
Estava nessa faixa, nesse espectro,
E o espectro do esquecimento
Fez com que assumisse todas as idades.
Não sabe como chegou em casa.
No dia seguinte não o soube.
Soube, sim, que precisava ir a uma
Instituição chamada escola,
Segundo sua suposta e, naquele momento,
Provisória mãe.
Pela idade das chamadas colegas
Se lembrou de que deveria ter
Entre 12 e 13 anos.
Por aí...  

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

SEM TÍTULO (PASSO POR UMA RUA MADRUGAL.)

Passo por uma rua madrugal.
Por trás das folhas de uma árvore,
A lua se expõe pouco, somente um olho.
Um frio incomoda meu descoberto pescoço,
Como vindo de uma boca,
Mas que tenha perdido o calor.
Um velho passa encapotado,
Emite um zumbido de zumbi,
E me delira um sorriso sujo de creepypasta.
Naquele momento, no contexto da rua
Qualquer cor, qualquer borboleta
Perdida já o título ganharia
De kinky queen queer.
De uma janela pouco aberta
Ouço a estrofe musical:
“But I’m a creep, I’m a weirdo.
What the hell am I doing here?
I don’t belong here”.
Não vem da janela.
Vem do meu celular, sem querer.
Encontro o velho novamente.
Ele já tinha contornado algum quarteirão?
Não emite som nem sorri.
Na esquina um cão olha
Com suspeita para mim.
Ou passo o cão ou retorno com o velho.
Passo o cão, que transfere
O som e o sorriso do velho.
Atravesso a rua e, enfim, encontro
Uma borboleta perdida.