quinta-feira, 26 de agosto de 2010

SASHA GREY

Diz que é de Dorian Gray
“Leio Nietzsche”, ela diz
And she swallows three loads of jizz!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

NADJA

Nada há
Que impeça
De,
Tentacularmente,
Vagar
Como sonho e esperança.
Porção móvel de esperança
Na espera
De,
Ao acaso (objetivo),
Encontrar
Uma mão de fogo na água
(Pois o fogo e a água
São a mesma coisa,
Mas o fogo e o ouro não).

domingo, 15 de agosto de 2010

ESOPO VORE

A raposa e o leão propuseram um acordo. O leão devoraria a raposa e a raposa seria devorada pelo leão. Assim, ambos ficariam satisfeitos. Então, o leão devorou a raposa e a raposa foi devorada pelo leão.
Esta história não tem uma moralidade.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

... É preciso contar esta história. De alguma forma. Algum dia ela será contada. É que ele era um menino especial e o que é especial precisa ser contado, apesar de não sabermos ao certo o motivo. Em uma aula... Ele era especial sempre, mas em uma aula... Ele tinha nove anos. Mas ele tinha essa idade somente em uma aula. Em outras, não. Em certa aula... Ele sempre era admirado. Brincava com os amigos de coisas... esquisitas. Que chamavam a atenção. Tirava coelho de cartola, coelho usando uma cartola menor. Invocava chuva de borboletas à noite, chuva de mariposas de dia. Nesta aula, o professor fez um círculo com as carteiras (método desnecessário) para promover um exercício de classe. De repente, com nove anos, ele levitou. Os colegas adoraram. O professor se enervou, mas ele se centrou na sala e sonhou que era o sol... Ele não era mágico...

... ele se casou com uma beleza estranha. Sua mulher era boa, mas quase transparente. Parecia um mapa, pois as veias assomavam por todo seu corpo. Era tão magra... Ele cresceu normal, amadureceu além dos nove anos, apesar de ainda levitar e sonhar que era o sol. Ela era tão branca... Na realidade, agora ele sonhava mais calorosamente em ser o sol. Ela era tão magra que andava tão curvada que parecia que ia quebrar. Mas não lembrava vidro, apesar de sua fragilidade e tendência transparente. O sol refletia no vidro de forma mais bela... Mas ela era uma mulher boa...

... É uma bela história, na realidade. E precisa ser contada... Ele morreu de forma especial também. Mas teve filhos. A mãe deles tinha olhos roxos, irisados. Eles, não... Mas também morreram. E de encontro ao arco-íris. Confundiram metal dourado com o sol... Não me recordo como ele morreu, apesar de ter sido de forma especial. Talvez por isto também a história precise ser contada. Eu não compreendo porque ela não foi contada... Eu não compreendo. Ele compreendia tanta coisa, e quase nunca se pronunciava. A mulher morreu de leucemia. Quantas manchas... Que mapa terrível. Mas sua beleza não desvaneceu. Só se tornou mais estranha...

... Eu queria contar esta história, mas não compreendo tanta coisa... Acho que ele tinha nove anos em uma aula. E, com certeza, em algum lugar, havia um sol...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Átomo
Por
Átomo
Microagrupando
O mundo
Em macro.
Palavra
Por
Palavra
Discursando
Ato.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

VISITA NOTURNA

DRAMATIS PERSONAE E/OU PERSONAGENS DO CONTO

LÚCIO
LÍVIA
BRUNA

Vibra a campainha de uma casa. Lúcio, de dentro da casa, verifica pela janela sem ser percebido. Com algum esforço, reconhece uma silhueta feminina.

Lúcio – Lívia, venha ver...

Lívia termina de se pentear e atende o pedido de Lúcio. Aproxima-se da janela e, também sem ser percebida, reconhece uma silhueta feminina.

Lívia – Sim, é ela. Atenda.

Lúcio abre a porta, dirige-se ao portão e o abre já em vias de esboçar um sorriso para a silhueta que assume mais nítidos detalhes.

Lúcio – Olá.
Bruna – Olá.
Lúcio – Seja bem-vinda. Entre. A Lívia está lá dentro.

Lúcio e Bruna adentram, ela após ele, a casa. Lívia está sentada em um sofá com um sorriso separando os lábios bastante carminados; porém, seu sorriso parece flexionar uma coceira de indecisão. Enfim se levanta e se dirige até a visita para que uma demora de atitude anfitriã não condicione os termos de um constrangimento.

Lívia – Faz tempinho, hein? Me abraça!

Estreitam, ambas, um confortável abraço.

Bruna – Sim, apesar de morarmos na mesma cidade. Mas é a famosa correria, não é?

Lúcio se sente algo marginalizado.

Lúcio – Universidade, não é?

Lívia se constrange um pouco, enquanto Bruna assente com gestos de cabeça.

Lívia – Sim. Não fazíamos o mesmo curso, mas ingressamos no mesmo ano. Morávamos em repúblicas bastante próximas. Íamos às baladas juntas.

Bruna vira todo seu rosto em direção a Lúcio.

Bruna – Pois é.
Lúcio – Vamos beber algo? Sente-se, Bruna.

Ambas se sentam no sofá ao modo que Lúcio propõe com a apresentação de copos e de uma garrafa que eles bebam vinho.

Bruna – Lúcio, não bebo álcool. Até porque sou vítima de uma gastrite que ainda me incomoda um pouco, mesmo tratada. Me desculpe.

Estranhamente, a expressão de Lúcio reage com um tom de certa preocupação, sem ficar claro que seja pela informação da gastrite.

Lúcio – Suco?
Bruna – Ah, sim. Gostaria. Por favor.
Lúcio – Laranja?
Bruna – Pode ser. Antes suco cítrico que álcool.

Bebem os três. Lúcio atenta para a diferença de tonalidade dos lábios de Lívia e de Bruna. Ou melhor, para a diferença de tonalidade de batom, e como essas tonalidades imperceptivelmente reagem em contato com o vinho, no caso de Lívia, e com o suco, no caso de Bruna.

Lúcio – Mais açúcar ou gelo, Bruna?
Bruna – Não, obrigado, está bom.

Bruna sorri um sorriso que se desprende sutilmente do rosto, flutua um pouco, mas que logo se justapõe mais vivamente.

Lúcio – Como se conheceram, Bruna?

Bruna olha e sorri para Lívia. Então se vira para Lúcio e se mostra mais receptiva que antes.

Bruna – Nos conhecemos em um curso de extensão que nós duas, por um acaso, fizemos. Levantei para questionar um dos palestrantes no mesmo momento que ela. Ela acabou falando na minha frente e após o curso veio se desculpar. Jantamos juntas na universidade e nossa amizade frutificou.
Lívia – É isto...

Lívia e Bruna se entressorriram. Lúcio, que estava em um sofá isolado, levantou-se e se sentou mais próximo a Bruna, que voltou a se tornar um pouco menos receptiva, mas não desambientada. Sorriu de soslaio para Lúcio. Lívia bebia mais séria, olhando para frente. Após um breve ínterim, Bruna se levanta, agora com ar de contentamento.

Bruna – Gostaria de conhecer o lar, doce lar...

Lívia olha para Lúcio, que assente.

Lúcio – Claro, não repare na bagunça... Nem está tão bagunçada, na verdade.

Lívia sorri para Bruna.

Lívia – Sinta-se em doce lar, Bruna.

Bruna sorri para Lívia. Os três perambulam pelos cômodos do interior da casa. Param na porta do quarto de casal.

Lívia – Venha ver este espelho, Bruna.

Bruna se dirige até o espelho ao lado de Lívia. Sente-se um certo receio. Lívia depõe, meio desajeitada, uma das mãos no ombro de Bruna.

Lívia – Sempre gostei deste espelho.
Bruna – Por quê?
Lívia – Porque é próximo da cama.

Bruna sorri com a cabeça voltada para baixo e olha de soslaio para Lúcio, que permanece na porta.

Lívia – Não, não é o que eu quis dizer. É que, quando levanto, gosto de verificar meu rosto sonolento ainda antes de ir ao banheiro. É uma mania. É como se eu somente me reconhecesse de manhã a partir do momento em que vejo meu rosto, ainda com os olhos semicerrados, parecendo uma japonesinha remelenta.

Lúcio sorri.

Bruna – Mas você não é japonesa...
Lívia – Eu sei.

Lúcio gargalha como se quisesse ser percebido. De qualquer forma, é mesmo percebido. Caminha até as duas e se posta atrás de ambas. Os três observam o espelho. Lívia se separa e senta na borda da cama.

Lívia – Sua cama é de mola, Bruna?
Bruna – Não.
Lívia – É gostosa...
Bruna – O quê?
Lívia – Cama de mola.
Bruna – Ah... Ouvi dizer que sim.
Lívia – Experimente...

Bruna se desvia gentilmente de Lúcio e senta ao lado de Lívia.

Bruna – É gostosa...
Lívia – O quê?

Bruna sorri como de um qüiprocó.

Bruna – Cama de mola.
Lívia – Ah, sim. Muito. Não disse?

Lúcio observava as duas como reflexo do espelho. Vira-se e senta na cama, enquanto Lívia se levanta e, quase logo após, Bruna. Lúcio deita e logo se levanta.

Lúcio – Vamos para fora. Temos um pequeno jardim.
Lívia – Bruna não aprecia muito o verde, Lúcio.
Bruna – O que é isso, Lívia? Vamos ver o jardim.
Lúcio – Não, tudo bem...
Bruna – O quê?
Lúcio – Não precisamos.
Bruna – Do quê?
Lúcio – Ver o jardim...
Bruna – Vamos, sim.
Lúcio – Por quê?

Bruna demora um pouco para responder.

Lúcio – Tudo bem. Vamos.

Os três saem para o quintal, Lúcio à frente. Um pequeno jardim floresce. Andam ao redor de alguns canteiros. Lúcio fala como se falasse para uma das flores.

Lúcio – Bruna, na verdade, eu é que não aprecio muito o verde.

Bruna permanece na latência de uma reação.

Bruna – Vamos entrar, então.
Lúcio – Vamos. É a Lívia que aprecia o verde.

Lívia olha de soslaio para Lúcio e sorri para Bruna, que esboça compreensão. Os três adentram novamente o interior da casa, Lívia à frente. Ao passarem pelo quarto, cada um se olha sorrateiramente no espelho, mas não o suficiente para cada um não ter percebido o gesto do outro. Retornam à sala de estar. Sentam-se novamente no sofá. A sensação momentânea é de breve reflexão. Mas de uma reflexão algo esvaziada, com dificuldade de focalizar um objeto. Os três estão sentados no mesmo sofá.

Lívia – Vocês estão com fome?

Lúcio olha com certo ar de estranhamento para o tapete, mas assente ao se virar para Lívia.

Lúcio – Vamos pedir algo ou querem sair?

Lívia olha para Bruna, que também emite um certo ar de desconcerto, embora também assente. Só não se sabe direito com o quê. Então direciona melhor sua atenção a uma resposta mais precisa.

Bruna – Deixem disso. Acho que não precisamos sair. Aqui estamos mais à vontade para conversar. A não ser que vocês queiram sair. Então claro que os acompanho.

Bruna demora-se mais um pouco, mas continua antes que alguém interfira.

Bruna – É que faz muito tempo que eu e Lívia não conversamos. Tanta coisa para falar. Ou não?

Lívia sorri para Bruna.

Lívia – Sim, sim, é verdade.

Lúcio também sorri.

Lúcio – Não querem nem pedir algo?

Lívia observa a reação de Bruna.

Bruna – Eu já comi, na realidade.
Lúcio – Ah...
Bruna – Mas fiquem à vontade.
Lívia – Por nós, não... Pensamos em você. Mas já que você comeu... Está satisfeita?
Bruna – Com o quê?
Lívia – Com o que você comeu.
Bruna – Sim, sim... Como vocês se conheceram?

Lívia olha para Lúcio e retorna o olhar para Bruna.

Lívia – Eu e Lúcio?
Bruna – Sim.
Lívia – Em uma boate.
Bruna – Ah...

Lúcio sorri.

Lívia – Não a freqüentamos mais.
Bruna – Aham...
Lívia – Preferimos nossa casa agora. Pouco saímos.
Bruna – Eu pouco saio também.

Lúcio reflete um pouco.

Lúcio – O que você faz, Bruna?

Lívia olha mais atentamente para Lúcio. Espera a resposta de Bruna. A resposta somente lateja, e Lívia responde por ela.

Lívia – Ela estuda, Lúcio.

Lúcio fica constrangido, mas persiste.

Lúcio – Mas você não tinha terminado o curso na época da Lívia, Bruna?
Bruna – Sim, eu continuei os estudos. Já estou no Doutorado.

Lúcio crê quase inevitável a próxima pergunta.

Lúcio – O que você estuda, Bruna?

Bruna demora tanto para responder que Lúcio gestua uma reação de ênfase.

Bruna – Algo relacionado à sexualidade. Sexualidade humana.

Bruna sorri para Lúcio com uma melancolia que desponta de um sorriso dado em um momento dúbio, deixando transparecer uma fagulha de um sentimento próximo à compaixão. Lúcio sorri um meio-sorriso e Lívia alivia seu corpo recostando-o completamente no sofá e olhando em direção oposta aos dois. Então vira o rosto em direção a ambos com a feição tomada por uma sombra de tédio resignado, mas retoma um sorriso e recompõe seu corpo. Após, a seriedade prolifera com argúcia nos corpos despojados de palavras dos três. É Bruna mesmo quem remaneja o discurso que se escondeu debaixo do sofá.

Bruna – Tanta coisa para falar... Mas temo seja tarde...

Lívia põe dois dedos na têmpora olhando para Bruna. Mas não há preocupação no gesto. Lúcio perde ligeiramente o foco do olhar mas logo o recompõe em direção às duas. Bruna se levanta. Lívia se levanta mais rapidamente e a acompanha até a porta de saída. Lúcio as segue um pouco atrás até os três chegarem em frente a porta por Lívia aberta.

Lívia – Tanta coisa...

Lívia beija levemente Bruna na boca. Lúcio abraça Bruna demoradamente.

Lúcio – Talvez outro dia...

Bruna assente. Após, sai da casa. Quando vêem que ela sai com o carro, Lúcio e Lívia entreolham-se compreensivamente e se abraçam sem nada dizerem. Quando Lívia fecha a porta, cai o pano e/ou o conto acaba.




domingo, 1 de agosto de 2010

TRINITAS

IN NOMINE PATRIS

Nel mezzo del cammin de minha vida,
Em minha selva oscura, clarificou
Aquela Castidade enorme
Que muitas vezes via como tirano disforme.
Ele - sacro enigma -, como mulher,
Permitiu meu cósmico desejo
Alimentar todo o ensejo
De atingi-lo em luz nos cabelos,
Nos seios, no quadril
Como vadia que não cobrasse
Exceto esse cálice de excesso
- Abscesso de fé, abismo ao revés -,
Essa quimera, essa semente,
Esse cuspe cuspido como lágrima de crente
- Vita nuova, plêiade mundana,
Paraíso terrestre.

ET FILII

Orquídeas roxas desabrochando
Com forte perfume rubescente
De indigente.
Calafrio de beleza nos cabelos de Madalena:
Óleo raro de paixão.
Coberta de sangue, a fé é mais bela.

ET SPIRITUS SANCTI

Em dia de caça
É melhor o antigo estilingue.
Ferir e cuidar
Para que voe novamente.