domingo, 12 de abril de 2020

SEM TÍTULO (O ALCOVITEIRO DA MORTE)

O alcoviteiro da morte
Me convida para sair.
Covid, para onde ir?
Coronal, flanar
Sentindo a fosforescência
Do mal,
Como antigamente,
Com espaço para,
Mais detidamente,
Ser seduzido pelo viço
Da mercadoria que sobrou?
Ou, coronários, circular
Por caminhos desabitados,
A não ser
Pelo cimento e edifício
Do que ainda forma
Não tomou?
Flanar utopicamente,
Sem saber se o futuro
É solidário
Ou se, no Capitalismo
Ou no Socialismo,
Lutaremos
No apocalipse zumbi,
Que por ora o assisto
Na Netflix, aqui?
Ou contar os mortos
Que o desemprego já matou?
Alcoviteiro,
Outro filme me chama:
É sobre epidemia
E quarentena.
Tanta mise en abîme.
Uma pena. 

sexta-feira, 10 de abril de 2020

SEM TÍTULO (É UM TANTO TRISTE VER, SOLITÁRIAS,)

É um tanto triste ver, solitárias,
As teias das aranhas.
Seu esmero desperdiçado,
Detalhes espicaçados,
Insetos endurecidos,
Dispersos e não ingeridos.
Mas mais tristes
São as teias sem nem eles:
O trabalho e a beleza
Deixados como presentes
De artistas mortos
Ou misteriosamente evadidos.



terça-feira, 7 de abril de 2020

SEM TÍTULO (EM TONALIDADE DE ENLUADO LUTO,)

Em tonalidade de enluado luto,
Cuckquean atravessando a noite devassada
Por luzes entrefolhas penetrantes
Como chifres de fêmea unicórnio.
Córnea passante (a lua, a cuck),
Musicista do salto alto flautino
Esperando a faca de Chucky,
O brinquedo assassino... ainda quedo.
Queen of the stone age, primitiva,
Ou arcaicontemporânea como bélica
Kaiowá em Brasília, flecheira.
Os feixes de luz manipulam seu desejo:
Entrefolhas das janelas, das árvores,
Dos bares, bebendo o absinto
Da claridade bêbeda dos lares, a rainha
Passeia nas calçadas, nas aleias,
Como se sonhasse com sangue, sedenta,
Destilando aguardentes na boca,
E, mirando profundamente no imo
Do enlace das sombras, o inequívoco palor
De um poliamor vampiro.