segunda-feira, 22 de abril de 2013

O GÊNIO SELVAGEM


Fascina da lamparina
Uma luz esdruxuleante e purpurina,
Ferinte de uma sombra ondeante; ondina
Oleada e que coleia
Quando minha mão meneia
Em frente ao dorso ferante
De um ângulo tigrado;
Ou será mesmo de um tigre
O renitente olho pintado
O que faz vibrar de reflexo
Todo este ambiente fechado?

domingo, 21 de abril de 2013

NOITE PROVINCIANA

À noite a cidade é melancólica.
As coisas perdem a falta de amor
Mas também não adquirem amor algum.
Há sempre um amor à espera.
Mas de esperar já raiou o dia.
Todavia há na noite uma condição de eternidade:
A eterna melancolia das coisas.
As coisas sem uso são o resto do mundo,
O resto acumulado no mundo.
Este resto é revelação,
Que é o impreciso, o vago, o inexplicável.
As coisas paradas não tem explicação,
Sua justificativa se posterioriza,
E na noite seu mistério se mantém, eterno.
Se uma mulher passa nesta noite
Penso que só pode ser a encarnação
Do mistério das coisas.
Por isto vaga, imprecisa e inexplicável.
Eu sempre a deixaria errar
Pois nunca a alcançaria.
Mas gostaria de vê-la sumir na sombra da esquina:
Sentir esta doce e terrível melancolia,
Sempre nova, sempre eterna.
Do dia nada se espera.
É à noite que, ainda mistério,
O escondido se revela. 



sábado, 20 de abril de 2013


Dúbia expressão
De efêmera efeméride,
Expressão danúbia.
Olhos de punk
Oblíqua e dissimulada,
Postos no all star sujo
E na meia rasgada.
Olhos de ressaca,
Ressecados, insones,
Com indício melancólico
De vômito.
É o mito, é o mito.
Expressão autofágica
Como Hannibal Canibal
Ouvindo Cannibal Corpse.
É o mito, é o mito.
É o tal nada que é tudo,
O que revelo e omito,
É a beleza que eu minto
Com adjetivos de fachada.

quarta-feira, 17 de abril de 2013


Este mênstruo lunar
Já me incomoda,
E o espectro
De nenhum complexo
Sente culpa.
Aqui não há só representação,
Não há só um.
A unidade da identidade
Está ali, na metade
Da zona de sombra,
Mas esta sombra é também obra:
Mênstruo.
Porém me incomoda.
O sangue dispersou
E tingiu estrelas,
Atingiu uma órbita
Muito além da prevista.
A lua zumbi,
Doadora de sangue,
Encena uma morte langue.
O céu é um palco de sacrifício.
Belo artifício...
Mas sangrou demais
A lua defunta
Que ainda interpreta uma rainha
De marfim de elefante alvejado.
A lua defunta rocambola no espaço.
Parece de marfim, parece de aço.
Talvez, ao invés de mênstruo,
Seja suicídio?
Ouço um choro de bebê sem regaço.
Na minha órbita
Se pode assistir ao fim do teatro:
A lua defunta
E um choro de bebê no espaço...
Aqui não há só representação.