domingo, 29 de março de 2015

CHUVA

Cães nunca conversaram
Seriamente entre si
Enquanto estávamos virados.
Mas gafanhotos conspiram
Um final verde para o mundo.
O som será ensurdecedor, creio,
E muito leve,
Como uma antena de inseto.
Carrapatos e pulgas
São os vampiros da infância
Com sua avermelhada
Oblonga sede
Perpetuando temores.
Os gafanhotos
São chuva divina, verde.

SEM TÍTULO (UM POEMA ÁGRAFO)

Um poema ágrafo
Tensionando toda uma existência:
Nenhuma serpente invisível
É áglifa.
Os galos tecem a manhã
E amanhã, provavelmente.
Na terra,
Um teatro teratológico
Se exibe escondido
Em fundo imaginário.
Aracnéia teia
Zomba da dialética
E faz com que o sonho
De um paradigma
Desabe no sonho de um sintagma.
O céu não atura
A escritura;
Ela cairá em nossas cabeças,
Como se fôssemos
Todos gauleses.
Mas vivemos todos
Profundamente no deserto. 

terça-feira, 17 de março de 2015

FEIXE E JARDIM

Um murmúrio de luz
Está aberto a um sentido avulso
Em algum lugar.
Burburinho no escuro,
Navalha, gilete, cicatriz
Brilhando em algum lugar
Do lugar algum do escuro.
O risco das metáforas
É sempre arriscado.
Se poderia apelar ao sagrado,
Ao imorredouro sagrado
Que abre a cicatriz
Em busca do pus da luz.
Apelar ao sagrado, ao erótico.
Sonhar realidades,
Como aquela de que
As mulheres têm flores no ânus.
Nenhum sentido se basta,
Nenhuma realidade se abre
Sem que se a sonhe.