sexta-feira, 30 de setembro de 2016

NOVA LEGIÃO

É novinha.
A luz do celular,
Sempre à mão,
Favorece uma balada virtual
Na abertura do capuz.
Pequenas estrelas vermelhas
Cintilam em seu rosto,
Luzes amarelas
O contornam.
Traz todas as marcas
Da comunidade no corpo,
Na maneira de andar.
Hoje ela não teme
Andar na rua escura,
Talvez porque o celular
Tenha prendido demais
Sua atenção.
Sua roupa curta e justa
É a mais nova e bonita
Que tem, mas hoje
Ela não teme.
Para ela, hoje
O mundo acabará
Em funk.
E algo lhe diz
(O celular?
O funk?
A comunidade?),
Mesmo solitária,
No meio da escuridão,
Que novinha é identidade,
Mas que também é legião.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

MALVÁCEO

O dedo apontando o céu
(Sendo picado por uma estrela,
Ferrão luminário)
Desviou a atenção da própria mucilagem
Anunciada na mitomania do hibisco,
Amaciada na pele já amaziada
Com o mel das abelhas
Que ritualizam aéreos gestos
De uma colmeia imaginária;
O imaginário que perfura o real
Como perfura a pele prenhe
De microfissuras como de dentes operados.
Meu dente é a caixa de Pandora,
Meu dente da frente,
Hiperinflação de imaginário pós-operatório
Querendo perfurar o real,
Relando nele como pincel de dentista,
Como broca de artista.
O hibisco, sonhando com seu próprio exotismo
Como um mimo,
Se transformou em rosa-de-sarom.