sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Gosta de se vestir de oficial nazista a pequena Todesengel a pequena desgraçada a pequena amorosa amada em um campo de concentração nenhuma lingerie da moda é suficiente gosta de falar alemão revistar procurar piolhos na cabeça judia comunista de se vestir de PM e de vigia de presídio quem seria o professor? o manifestante procurado? o black bloc escondido? o presidiário? é integrante do Femen castigando machista em pose da Playboy só que mais ácida mais artista mais ativista mais artevista anti-Hugh Hefner da mídia ninja ou não a pequena mutante a pequena mascarada a pequena jogadora que gosta da inversão que depois se veste de escrava acorrentada à procura do senhor cadela pônei gata leite e ração no pote e a pequena é gigante de ideologia ativista artevista professora manifestante comunista feminista a cama é uma a vida outra são outras vias a cama é até maior que a vida mais vasta a cama tem maior gama do bem e do mal e além tem outra ética éticas demais e além tem outra ótica sem preocupação não vazará nenhuma sextape nenhuma sextape nenhuma sextape ela apaga ela no fundo não confia em ninguém ainda bem.   

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

FUTURO DE CASAL

Sou voyeur e quero uma mulher
Que se deixe possuir por Belzebu,
Que deixe o demônio arder seu cu.
Quero me vestir de exorcista por capricho
E ouvir seu gutural de Emily Rose,
Desviar de seu vômito de mostarda
E te ver como uma tarântula
Descendo a escada,
Te ver ter convulsões
De risos com efeitos sonoros
Em poses finais ao modo de Aretino,
Girar a cabeça com os olhos virados
E ler a Bíblia ao contrário
Com um sotaque cretino.
Este é o futuro de poesia
Que imaginei para nós dois.
Isto, ou então eu contrair
Uma DST em uma zona
E não me tratar
Para morrer em seus braços depois. 

MEDO DO ESCURO

Fear of the Dark
Não é música que provoque medo,
Mas há sombras
Que com seu balé suspeito
Provoca as sobras
(Abastadas sobras)
Do animal que mora
Em nosso peito.
A mímica obscura do revólver,
Da faca ou o voo
(Imposto pelo imposto)
Da bomba de gás lacrimogêneo.
Todo gesto nas sombras
Pode ser de amor ou de tortura,
E a peça nua no quarto
Envolta em sombras
E sobras de peças de roupas
Pode ser carinho de casal,
Uma história ao modo de Stoya
Ou um fantasma estuprador
Boliviano fazendo lívidas
As histórias de vida.
As sombras envolvem o mundo
Em sua mística da indistinção,
E toda ilustração
Também carrega escuridão.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

MEMÓRIA

É imaginativa a memória,
Assim como uma ficção passada
Também se fia em seu enredo.
Mesmo assim nela confiamos,
Pois assim ela é e tece
A narrativa de nossa vida.
Uma ficção passada
Que se fixa vagamente,
Assim como uma ficção presente
É capaz de alimentar o passado
E chegar até ele
Como iluminação do que ocorreu
Ou ocorreria.
Porém nossa memória é parte nossa
E parte de todos;
Toda memória é nosso coração
E ao mesmo tempo coleção:
É coletiva.
Memória também é desmemória,
É omissão,
E nossa memória é em nossa concepção
Diversa de uma narração
Que não a nossa.
Quem narra nossa memória
Acrescenta, exclui,
E cria outra ficção
Que refigura a nossa.
Nossa memória é outra
Quando é do outro a interpretação.
Por isto também é coletiva:
Porque é volátil o que ela contém
E porque todo homem
Conta com a imaginação.
Nenhum tempo é perdido:
O passado é uma hemorragia do presente,
Do presente nômade
Que se eterniza se recriando
A cada sempre nova mesma aparição. 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

É como cair em um abismo
Esquecendo todo o suporte das asas,
É como aparecer em uma sextape
Roubada de um estoque privado,
É como crer em um deus
E descobrir que ele é o acúmulo do nada,
É como escrever um poema sério
E o acusarem de poema piada,
É como se recuperar
E ainda se sentir acabado,
É como acabar com a vida
Ainda em vida, antes dela ter terminado,
É como sentir amor
E sentir que ele é criação, como a arte,
É como sentir que o fim do mundo
Sempre esteve aqui e agora
E em toda parte,
É como confiar
E a confiança alheia ser parte de um jogo,
É como ter água à vontade
Quando o que se pede é fogo,
É como querer ser clássico
E um idoso te chamar de novo de novo.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

MANIFESTO

Logo partirei para uma manifestação
Já com a perigosa sensação de rotina.
Termino o PF pensando na PM:
Que grau de vandalismo terei de suportar?
Prefiro não usar máscara
Nem ser anônimo.
Parto para a manifestação
Já com a perigosa sensação de espetáculo.
Quais as pautas?
Alguns fazem do despautério a pauta,
Outros fazem pautas das calçadas
E da rua o caminho,
Antes de qualquer definição.
O povo grita a nação
E se esquece de gritar povo,
Assim como se esquece
De que há povos entre o povo.
A sociedade é um polvo.
A performance absorve a manifestação,
Performance para book e Facebook,
Mas artística também.
Ou então o espetáculo das ruas
Transformou a rua no palco
Onde arte, protesto, cotidiano
E comunicação tenham atingido
Um patamar de identificação
Ainda não mensurado?
Há muito pacifismo de um lado,
Muita violência de outro.
Às vezes não se define o lado,
Mas um dos lados sempre está mais correto,
Enquanto o outro é o Estado
Promovendo estados de sítio
E de exceção.
A volatilidade do espetáculo do povo
Às vezes adquire peso, solidez.
O público às vezes não sabe
Como reagir perante um espetáculo,
Não sabe como agir,
Não sabe o que fazer
Com a memória dele,
Com seu impacto.
O público procura criar
Uma resposta espetacular
Para compensar a reação.
Se a crítica não for construtiva,
Ou melhor, se a crítica não for construção,
Muito artista se revolta ainda mais.
Para alguns deles, até, a rua é o lar.   


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A companhia de árvores
Exibe seu corpo cadavérico:
Bailarinas dançando em jejum,
Enquanto uma exibe o gesto
De acalentar nos braços
Um filho invisível
De que ela se arrependeu
De abortar por conta própria.
Mas também dança,
Confundindo a culpa e o sofrimento
Com um artístico fetiche fetal.
A natureza sempre tem novas gestações
E configura de outro modo
O que para nós é fatal.
Porém esta árvore bailarina
Sente o que nenhuma sente,
Se comunica mais que as outras
E às vezes sorri
Um sorriso largo e deprimente
Que me atemoriza.
As sombras fazem-nas dançar mais.
Ela quase não tem cabelos,
Sua dentição é horrível.
Seu balé suave pesa como martelo.

CU CULT

A bunda da funkeira,
Ao rebolar e se abaixar,
Me fez reconhecer,
Por um momento,
A ontologia absoluta
Ao modo de Bachelard.

SEM TÍTULO (O DIA NASCE ORIENTAL,)

O dia nasce oriental,
De olho rasgado mas azulado.
Minha mente vaga
Até o oriente do oriente do oriente
Do oriente do oriente do oriente
Até tudo se tornar o oriente,
E me levanto, após, ocidental.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

PAISAGEM

Uma comichão de colmilho sobe no hálito
Com uma atenção leopardina no olhar
Que fareja no chão alguma presa que, por ser presa
Do próprio odor labiado de tomilho,
Ilude pela tatuagem arbustiva que o alimento
Vivo é antes uma paisagem móvel,
Uma ilusão de paisagem aromática
Como um simulacro do amor carnívoro,
Do amor carnal que agora se levanta
Completamente e caminha com gestos licorados
Como cominho que quer enaltecer
No corpo sua origem egípcia,
Mas com um esgar de jaguar
Que vê no exotismo
Uma espécie especial de erotismo. 

domingo, 13 de outubro de 2013

JARDINEIRO

Um coral de crianças
Resguarda uma parte do jardim
Que não posso desbravar.
Ouço suas vozes rosadas.
Ao me aproximar da parte proibida
O coral grunhe em pig squeal.
Do alto, plantas tentam pingar
Orvalho na boca de quem passa.
Um odor de carvalho se alastra
E pernoita na noite das narinas.
Na noite dos ouvidos,
Um labirinto de sons cromatiza
Em conjunto com o coral corado.
A coloração musical do coral e dos bichos
Cria uma cobra coral nos ouvidos,
Delicadamente venenosa:
Todo jardim procria um tanto de mal.
Um ouvido envenenado ouve demais
E de menos.
Não posso tentar matar as crianças.
Há uma parte moral em mim
Que ainda não permite.
Nunca vi nenhuma,
Mas o odor afasta.
Acho que morreram faz tempo,
Na realidade.
Sou este jardineiro
De um jardim rebelde
E que não se permite inteiro.
Sou desde quando o desconheço.

ANTICRISTO

Um bordão blasfemo:
Masturbação feminina com crucifixo.
Um clitóris com uma coroa de espinhos,
Flagelado, perfurado,
Encharcado de urina
Ao desejar algum alívio.
Uma oração a este clitóris crucificado,
Querendo encontrar Cristo
Através da blasfêmia,
Querendo ser Cristo
Debaixo de um vestido de freira.
Uma oração ao altar
Deste clitóris em sangue
Que Lars teria decepado com uma tesoura.
Uma prece em cuspe
A este clitóris que o ouro do Vaticano doura.
Uma reza lambida e babada
A esta vagina devoradora
Que quer ser Cristo
Mas o esmaga como se o quisesse matar.
A extrema-unção a esta vagina
Onde Satã e Jesus
Se abraçam e se beijam
Como em um incesto entre irmãos.  


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A FLOR NA PELE

Um pesadelo de trepadeira-jade
Puxa minha perna à meia sombra esgueirada.
Meu desespero é que plantas
Se esgueiram quase imperceptíveis.
Alguns jardins me são paisagens de medo.
Que espécie de florista amaldiçoou meu sono
E minha vida na flor da idade?
Meu sono azulado que se confunde
Com o pesadelo trifoliado
De uma beleza terrivelmente perolada,
Com o pesadelo requintado de esmeralda?
Beija-flores são atraídos para este pesadelo
De condição pergolada.
Quando o pesadelo desperta no espelho
Sente sujeira até nos cabelos:
Caramanchão de cara manchada
Lavada em água marinha.
Uma polifonia ameaça meus ouvidos
Com asas de morcego
Incentivando a polinização.
Como polinizar nos sonhos?
As vozes querem me dar esta função,
Querem me dar asas.
Eu cedo, cedo para fugir
Ou para dar sentido a tudo isto.
Cedo para invadir outros sonhos,
Me comunicar com raízes
E flores à flor da pele
Dos homens cobertos com a areia do sono.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

DE PASSAGEM

A música vagabunda
Vaga nos pelos do gato
Que se eriça
A ponto dele e dela
Brigarem como gato e rato
Até ela
Rapidamente enfatizar
Sua vaga
Em outro lugar.
Uma peruca de opilião
Em uma cabeça noturna
(A cabeça beirando a parede
E a loucura)
Se move um pouco enquanto ouve
Uma opinião sobre as celulites da lua,
Faz tanatose quando a cabeça
Vibra com a tosse,
Depois usa o que tem no prossoma
No meio da prosa.
Há muitas varizes nesta noite
Mais feminina do que nunca,
Noite com pernas misteriosamente reveladas,
Com seios de bicos levemente intumescidos.
Os opiliões se passam por aranhas
Só porque são aracnídeos,
Enganam, iludem como a noite.
Fico assim imaginando um artrópode
Com artrose
Ou algo como uma aracnidíase
Como em uma HQ
Para passar o tempo
E pensar menos nas celulites lunares...
Gostaria de beijar e lamber
As varizes noturnas.
O fantasma de um membro perdido
Passa por mim
Como uma membrana quase invisível
E sem visco.
Surge sem aviso
E verifico se todos os meus membros
Se encontram no lugar
Para continuar a caminhada noturna.
A aurora se espreme
Tentando espreguiçar
E abre um dos olhos, ainda vesgo. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

NOTÍFAGO

A lua é o desejo
Da minha garganta
Licantropa que gargantua
Tudo que alcance possua,
E atua como fera,
Vocifera, uiva.
Seu escuro uiva
De falta de luz de lua,
De solidão de brilho de estrela,
Pois minha garganta
Quer ser o céu,
Quer devorar o céu
E o aprisionar.
Minha garganta astral,
Minha garganta cósmica
(E cômica e que come)
Já performatiza seu ódio
Que busca a beleza,
Seu ódio esteta
Devorando a sensaboria
Que uma noite simples pode bocejar.
Toda noite deve ser especial
Para minha garganta.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Um sonho de uma noite de verão
Colidiu, na transição,
Com um sonho de uma noite de outono.
Muito vento tremeu o corpo,
Ainda que coberto de folhas caídas.
Camadas de ar se chocaram depois.
O sonho teve choque térmico,
Teve pneumonia e melhorou.
As narrativas oníricas se confundiram,
Algumas imagens perderam função contextual,
Outras adquiriram substância mais densa,
Elaboraram um sonho no interior do sonho,
Criaram uma narrativa experimental
Que o corpo experimentou
Como um abismo em si mesmo.
Quando o corpo despertou,
Havia nele mais sonho
Do que quando dormia.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

SISMÓLOGO

Percebo uma arqueologia do toque.
As camadas do toque.
Há poliamor neste afago, escondido, vago.
Há encenação em seus gestos,
Todo um teatro poliândrico é posto em cena
Mesmo nos monólogos.
Você é um mise en abîme.
O que havia de poligamia
Já foi bebido no café de manhã
Com a sujeira amanhecida de seus dedos.
O café estava fraco.
Sinto seu beijo cafeinado, crosta
Em que procuro o manto,
O enigma do magma, seu espanto,
E cismo com sua sismologia;
Procuro o seu núcleo, logo sismo.