segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

SEM TÍTULO (EU, EU, EU, EU!,)

Eu, eu, eu, eu!,
Eu, eu, eu, eu!
- A máquina do Capital,
Como um latido,
Dizeu a todo momento,
A máquina gnóstica
(Além da alienação),
Na qual entre eu e you
Sempre há um jung,
Um juiz, um arrazoado
De juízos sobre
O verdadeiro eu.
E se esse eu
Que se encontra
Se encontrar
Para se deslocar,
Se encontrar
Para se destronar,
Se encontrar
Para se perder
Na dança louca
De alguma estrela
Bailarina?

domingo, 28 de fevereiro de 2016

TARDIO

Uma sombra avulsa
Colma de carícia
A orla de um gesto.
Mondriânico, o gesto
Quer perfurar a vida,
Se instalar no cerne
De seu fruto...
Serôdio gesto,
Que de tarde amadureceu,
Postiço se postou,
Mas deixando seu rastro
De baunilha e leite,
Como um líquido sabonete,
Usufruído lento,
Que a água arrastou
Para o ralo
No inexato momento.


SEM TÍTULO (O RÍMEL)

O rímel
Que se esconde na luz
Ri de sua própria cor,
Se deliciando no próprio mel
Que, por contraste,
Faz ressaltar
Nos olhos da mulher que passa,
Repassando a mão
Nos cabelos melados
Do prazer da mesma cor.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

SOL COM SONO

Estrelas guiam meu sono.
No meu sono, o sol reassumido
É já um eterno adormecido,
E sua dormência é calor suave
Como um belo sorriso
Em um rosto feio,
Como se uma espécie de deus
Equilibrasse as coisas
Nos pequenos detalhes.
No meu sono música clássica
Baixa rumoreja e faz
Plantas florescerem calmamente
Em uma espécie particular
De ecologia acústica.
No meu sono há a inevitável fuga
Mas também um acento grave
Do prazer sensual.
No meu sono a inconsciência
Toma plena consciência
De que as criações do sono
Estão acima do bem e do mal.

MENTOLADA MUTANTE

Observo os buracos negros de seu rosto,
Sua transformação muda,
As mudas que nascem na sutileza das rugas,
Seu angulado esgar de animal
(Um baixo esgrunhido condiz)
Dormindo um sonho rico em proteínas.
Uma caricatura de Cristo
Resvala em sua posição na cama:
Seu rosto a denuncia.
Madalena uma margarida,
Fazendo seu rosto disputar
Barrocamente a beleza
Com o filete do sol canivetando
Fissuras leves de seu rosto.
Seu riso vago vagaroso
É uma tatuagem debaixo de uma tatuagem
Debaixo de uma tatuagem.
Uma atriz pornô e um bicho-preguiça
Se espreguiçam em seus braços:
Deviragens de laços lassos.
Seu rosto caverino memento de menta
(O odor da bala alucina hipersensória
No templo em miniatura da boca)
Morre para se transformar
Em alguma outra túrgida reação de vida.
Há algo que também é profundamente inumano
Em seu rosto, e que dorme assim que acorda.