quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

AUSTERIDADE


Amante de scar: um velho,
Um escaravelho,
Uma imagem do Scarface
(O filme com Al Pacino
E Michelle Pfeiffer),
O Alf, uma wafer (?),
O Pica-Pau sem tino
(O mais antigo, psicopata),
Um Alpino (?), os Alpes,
Um monte andino,
Uma espécie de
Two girls and one cup
(Era também kinky lesbian
Ou algo assim),
A Hebe Camargo
Com um sorriso amargo,
Um Camaro (não amarelo),
Quebrado.
Um zero,
Um “Eros uma vez...”
(Ironia de pedófilo).
Era muito escárnio
Para homens como eu:
Homens sérios...
Só conheci as tatuagens
Pelo que me disseram.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013


No mal da aurora
Algumas nuvens hanseáticas
Favorecem a extração
De algumas suas ligas
Para que a luz afugente a hora
Do sono: a hora sem fim.
Um estado maldoror
Oscila a ética da aurora:
A luz que esfaqueia
É a mesma que alimenta.
Não há mais brancuras freáticas,
O Mal de Hansen se carcomeu
E a luz deu adeus
À oscilação ética em que nasceu.
A oscilação é agora das cores,
Das partículas de poeira no ar
E da micro-solar tatuagem
Na carapaça de um besouro
De escuro ouro.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

PAPA-DEUS


Quero canibalizar Deus.
Sua luz será o brilho
De um besouro avermelhado
Explorando sua região escrotal
Enquanto morre na cruz.
Quero canibalizá-lo
Na semi-escuridão intermitente
Da tocha dura do inseto inquieto.
Quero travesti-lo de Madalena
Na esperança de que adquira seios
Para que eu possa comer
Ao menos um.
Deus é uma flor cheia de espinhos,
Uma fonte de chaga.
Quero violar os caminhos da chaga
Até chegar ao seu olho.
Quero babar a gosma de seu olho
E matar este besouro
Que não o deixa em paz.
Quero que Deus sofra de amor por mim
Mas morra na masmorra
De minha boca.
Quero minha fé até o fim.
Então poderei comer saudavelmente,
Comer como um momento de privilégio.
Então poderei transar saudavelmente,
Como um momento de privilégio
Que criarei no momento propício.
Chorarei horrores perante o horror
De um gato torturado e morto;
Ou melhor, não chorarei...
Comerei sua carne como como Deus,
Mas comerei com mais autenticidade,
E algumas lágrimas poderão depois surgir.
Já comerei puro, comerei sagrado
A carne já pura do amor...
Um gato torturado e morto:
A carne pura do amor.

domingo, 6 de janeiro de 2013

CONFESSIONAL


Entre seus ossos e sua carne
A aporia de um vazio
Preenchido de caos,
De universos não desenvolvidos,
Germes revolvendo
Obscuras formas
Não resolvidas, indistintas.
Aporia intestinamente bela,
Mais bela porque presa
Entre seus ossos e sua carne.
Se expandindo presa,
Libertamente,
Eu diria que esta aporia
É uma osteoporose sagrada,
Abrindo espaço na prisão,
Sendo o estigma da prisão
Esta triste liberdade.
Entre seus ossos e sua carne,
Mulher astralmente pré-hipodérmica
E osteopósrrosea,
Eu beijaria esta verdade.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013


Corto a picanha gaúcha
No momento do corte no rosto
Do lutador de UFC.
O ringue do meu prato
Fica encharcado de sangue
Como a televisão.
Uma ring girl esboça uma expressão
Sedutora que quase diz
Que beleza, sensualidade e violência
Realizam o encontro com a verdade.
Após o massacre
- Da picanha e da luta -,
E o apaziguamento
Do meu senso erótico
(“Sou virgem”,
Diz a ring girl),
Sigo para um parquinho.
Há algumas crianças.
O ar um pouco mais frio
Me faz bem.
Fico até um pouco mais
Madrugada adiante
E vou embora, depois, caminhando.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013


Há uma espécie de magia negra
Rebolando as bilabiais
De sua fala molhada
Com a aguardente
Que se mistura com o sangue quente
Do galo, da presa imolada.
Galo negro como sua pele,
Negro como a pele de seus olhos
Quentes, que são quentes
Como a pele quente como o sangue
E a sensação da aguardente.
As linguodentais de sua fala quente
- Hálito de serpente -
 Ritualizam mais mordente
A pele de seus olhos pela
Pele de sua pele
Que já é a pele da noite
Não fosse a aura quente
Da aguardente misturada ao sangue
- Silhueta de listas vermelhas dançando
Molhadas, chapiscam
A noite como fagulhas
Da fala do desejo.
Listas dançantes,
Dissonâncias macabras
Ressoantes no silêncio
Violado pela fala.
A falha da noite,
O orvalho vermelho na folha,
A língua dos demônios
Promovendo terrorismos
Que, abalando a linguagem,
Abalam a vida e o mundo.
Ou na latência de abalar,
Abalam a certeza de que o silêncio
É tudo ou todo mudo, e de que nenhum
Orvalho é alcoólico
Ou de que todos são transparentes.
É o terror...
Não o da noite, mas o que abala
A própria noite a partir de sua
Própria urdidura.
O terror da fala sangrenta
De vida e que aguarda com dente
O dia para deixar a marca
De seu orvalho quente,
Que despenca enquanto o espectro
De um galo imolado
Clarina desejoso de,
Após a violação do silêncio da noite,
Aterrar a fala clara do dia.

Reiterar expressões
Obsessivamente
Criará, porventura,
A aventura
Do mito pessoal,
Mas não atingirá,
Em si,
Mais e melhor
A realidade.
Todavia ativará
Melhor a via do desejo.
Do desejo e do asco,
Outra espécie de desejo.
Diz Sartre
Que em determinado
Momento o escritor
Tem de pegar em armas,
Sair do papel.
Digo, refigurar o desejo
E sair do papel.
O papel do escritor
É sempre de engajamento.
Todo escritor é engagé.
Se engaja
Em determinado desejo,
Pessoal ou coletivo.
Promover o Socialismo,
Seduzir a filha do vizinho.
Ou ambos.
Nenhum papel,
Em si,
É engajado.
Engajamento
É escrever
E ser de partido socialista,
Escrever
E transar
Com a filha do vizinho.
Ou ambos.
Ou então promover a falta...
A falta da política,
Da sedução, do sexo.
E a eterna falta
Da linguagem para com a realidade,
O jogo esquizofrênico
Entre uma e outra,
A brecha vazia da falta,
Da falta impreenchível,
Que mesmo nenhum leitor preenche
Mais a não ser como o sentido da falta,
Da falta não polissêmica,
Mesmo sem sêmen
E que zombe de qualquer
Estética da leitura,
De qualquer hermenêutica
Ou perscrutação retórica.
A falta...
A falta é
Em si.