terça-feira, 29 de maio de 2012

COREOGRAFIA


Só uma lua sorrindo com herpes
Ilumina a elefantíase das linhas
Da dança.
Uma flor de fogo encravada
Na boca.
Mas o fogo não ilumina
As mímicas elípticas,
As linhas abismadas
E os compassos subterrâneos
A não ser enquanto sorriso
Sutil, espécie de escuridão
Do avesso.
O fogo do herpes
É uma revelação arrependida
E intermitente.
Elefantíase mais discreta,
Vizinha do dente
Que, sujo, apresenta
Uma coreografia exemplar.
A lua é um sorriso só,
Aberto de par em par...
É o herpes que dança;
E tira para dançar.

terça-feira, 22 de maio de 2012

SERENATA


 O amor que em meu peito cabe
Não conta diques, ó belas!
Só minha guitarra o sabe,
 E aquelas velhas estrelas!...

Gomes Leal


Fazer das tripas, coração,
Por meio de um auto-snuff movie,
Mas com o garbo da Greta Garbo,
Uma confissão de rés-do-chão;
Sem fado a não ser o fado
Da maldição de, não havendo nata
Que assuma do amor maior a vulgata,
Cantar sereno a serenata com groove
Satânico e peso na distorção.

Confissão de rés-do-chão,
Com o garbo da Greta Garbo
E peso na distorção.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

CAVALOS


Ele coiceou a porta da frente. Ela estava deitada no sofá. Irascível, correu até ela que, meio desorientada, tomou a direção da apoplexia súbita, porém momentânea, que durou até o momento em que foi agarrada pelos cabelos e obrigada, aos gemidos, a ser quase arrastada até o estábulo, de onde ele afugentou o cavalo de um dos boxes e a arremessou no canto onde havia o balde com água. Ali sua irritabilidade amenizou, porém se tornou mais cínica: “Tire a roupa”! Ela grunhiu odienta, mas quase sem transição seu rosto apascentou o grau de resignação. O rosto dele chegou perto do dela, que estava já quase impassível, apesar de tremer levemente. Ali mesmo a violentou após ela ter se despido até mesmo com relativa calma enquanto ele observava transido de desejo. Ela de quatro e ele durante o intervalo das estocadas submergia o rosto dela no balde até ele sentir que ela estava quase se afogando. Segundos antes do orgasmo, submergiu a cabeça dela e somente a retirou segundos antes do término da sensação integral de prazer. Jogou-a de lado; ela cobriu os seios com expressão de choro afogado e cuspiu na face dele um resto de água que tinha guardado no final da tortura. Esboçou espancá-la, mas lhe infiltrou os braços debaixo das costas e pernas e, observando se não havia qualquer presença humana, correu para a casa e a arremessou no sofá. Então foi até a cozinha, fez um café coado na calcinha que ela despiu no estábulo e que ele tinha amarrado no braço e levou duas xícaras até a mesa da sala. Bebeu rapidamente a dele e disse, afagando um beijo suave na boca e depois na testa dela, que logo iria trabalhar. Antes dele sair, ela disse: “ Querido, comprei mais biscoitos concentrados para os cavalos”. “Quais”? “Aqueles que você prefere”. Ele assumiu a expressão de quem iria soltar um relincho de satisfação, mas apenas agradeceu amorosamente com o olhar e saiu.  

domingo, 13 de maio de 2012


Harpia,
Sua harpa eólica
Pressagia
O assassínio do macho.
Lépida, ocípete,
A empenada Lilith
Assenta
Que a busca atenta
Vislumbra sempre
- E também do desejo o facho -
Um gorgôneo regaço
Num salomítico semblante
De herodiento traço;
Assim como de venusta Vênus
O (mesmo que venal) abraço. 

ORIENTALISMO PARTICULAR


Asa Akira
Em um filme de Kurosawa (!).
Ambos Akira mas aqui
Caberia capa de espada no cu
E nenhuma cena calma.
Até o aço talvez seria
O protagonista de close arreganhado.
A asa da imaginação
Sempre se inicia
Na arma sacada,
E acaba
Com o samurai capado.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

MALLARMARGENS

Blog coletivo-revista com o qual colaboro:
http://mallarmargens.blogspot.com.br/

segunda-feira, 7 de maio de 2012

POEMA OBLÍQUO


A restinga de seus olhos
Concubina com a negra luz que chumba
Com pregos que parecem estrelas
O esquife que parece a noite,
Porque o sal é evidente, e brilha
Como pequenos cacos de vidro
Flertam com acinte e malícia
Os olhos da criança descuidada;
Como se o sangue tivesse o poder
De tingir a noite com contrastes ancestrais.
Restinga. Como se a vegetação dos cílios
Fosse se aproximar das águas turvas:
Noite e pinga; ou negros gatos pingados
Debandando pelos pingos das chuvas
- Ciganos com ressaca
Que ainda morrerão na água
Dissimulados em sacos.