quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

BICHO DE LUZ


Uma iluminação
Ao modo de uma iluminura desbotada.
É que amor agora é uma espécie de laxante:
Ao invés de mirra na testa cingida
Com uma carícia relaxante
É o corpo mirrado que desacumula
O objeto distante.
Nenhum platonismo de plantão
Que realoque a androginia,
Na verdade aristofânica.
Nenhuma luz brilhante e epifânica.
Somente uma iluminação desbotada,
Sem dor de rim, sem Rimbaud
Ou Baudelaire.
Uma iluminação de quem se satisfaz
Com a luz da lâmpada.
Iluminação artificial, para quem quiser.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


Fantasmas de fio
Concertando com a harpa harpíaca da noite
Uma tablatura dinâmica no frio,
Percorrendo como um sonho de vida musical,
Envolvendo casas, invadindo janelas
Como assombrações
Ou teias de aranhas maestrinas
Vibrando os gestos de nota
Dos corpos mudos.
É que nesta noite cabelos
Assumiram desejos eólicos.
Os cabelos enlaçaram dedos,
Enredaram caminhos obscuros.
Eles dormem acordados,
Relativamente domam itinerários de devaneio,
Espargem aromas criativos em conflito aberto
Com os aromas das ruas e becos.
Os cabelos querem viver outra vida,
Senhores do sonho agora, areia nos olhos
Como carícia de lembranças reestruturadas
Com outra harmonia.
Melopaica via de vida como sonho
De uma deusa com cabelos que fazem sonhar.
Ou de um deus sem cabelos a alucinar. 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

CONVOCAÇÃO


O convoco para o vazio.
O vazio não está aqui.
Nenhuma exibição do vazio
É o vazio.
Toda exibição não é o vazio,
Pois o vazio não se exibe.
Mas afirmo que está aqui.
Não está aqui
Mas está aqui.
Leia que está aqui.
Desleia até chegar à leitura.
O vazio está ali,
Onde antes disse aqui.
Mas desleia aqui e ali.
Desleia até chegar aqui.
O convoco para o vazio.
O vazio não se diz,
Por isto o caminho é seu.
O vazio não é meu.
Eu só o preenchi.
Eu, só.
Mas eu não sou só eu.
Eu, só, sou mais que eu.
Mas insisto que o vazio não é meu.
Na verdade, nem seu.
Mas o convoco para o vazio,
O vazio que é a origem
Ou não;
Que é o sagrado
Ou não;
Que é o horror
Ou não;
Que é a morte
Ou não.
O vazio... 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

SINGELEZAS


Minha língua espadachim
Esgrima a rosa líquida de sua boca.
Se fosse um singelo cotidiano
Diria que o atchim
De sua alergia é o pequeno espanto
Que faz com que uma alegria
Se concentre em outro canto
De nossa atenção.
Atingir o momento prévio
De seu atchim
E atentar para suas conseqüências
É o que faria
Com que sua alergia fosse a alegria
Do meu canto.
É a alegria sonora que aspiro...
Minha língua seria ronin
Na esperança
Do prazer do espanto.
É o prazer líquido que aspiro...
A água da boca e o sal da lágrima
Após o espirro.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


O homem ridículo passa na rua.
Como ele é ridículo
Não é necessário dizer.
O homem ridículo é mesmo
Até sem o saber.
Mas todos sabem
Quando o homem é ridículo.
Porque o homem ridículo
Não é um homem só
Nem só um homem,
Ainda que humano até a azia.
Ele só é ridículo
Quando o sabem ridículo,
E isto o torna necessário
Em sua ignorância
E em sua inecessidade cotidiana.
O homem ridículo
É uma espécie inútil
Pois sua importância
Está além de qualquer humanidade
Que se proclama.
O humanismo do homem ridículo
É sua própria ridicularidade
E a ignorância de si que dela emana.
Mais humano que todos
(Assim posto, o mais ridículo)
É o ridículo que, na ignorância,
Supõe que ama e que alguém o ama.