quarta-feira, 26 de maio de 2021

SANGRENA


O gato de olhos sangros

Eriça os cabelos da noite.

Que mênstrua mensagem

Passaria sua passagem?

Os cabelos da noite

Nos galhos da noite

Descansam, dormitam

O sono dos injustos,

A vigília dos justos.

Mas que sangue ainda luz

Nas madeixas, que vermelho

Meneia mudas queixas?

O pássaro pia o dia com gangrena

Da noite nulificada,

Pelo sangue do dia encharcada.

Não mais se estanca do dia a veia,

E o que se anula

Ainda guarda sua caveira:

O pássaro gangrena,

O pássaro sangra,

O pássaro sangrena.

 

terça-feira, 18 de maio de 2021

NATIMORTO

A massa do sonho

Rasteja na fronha,

Enrodilha o edredom.

Caliginoso, adrede

Adentra a boca

E adormece em seu halitoso

Esmegma.

A boca que desperta

Recondita, escova, redondilha

E cospe os sonhos do sonho.

O som do sonho, bochechoso,

É aquoso, e corre

Uma sombra de desejo,

Um fio de infinito

Que o ralo desfia,

Desfibra, deslinda, des

De que nasceu.