sábado, 24 de outubro de 2015

SEM TÍTULO (O CABELO CRESPO)

O cabelo crespo
Elaborou o labirinto
Das sensações fusion.
A música acordejou
O corpo natural.
Esmeraldinamente
A voz vibrou
Sopro de luz.
Colares de desejo
Serpentearam pelas falanges
Dos dedos.
O orgasmo do rubi
Refletiu o ventre.
O beijo rebuscado
Massageou com a saliva
O ego, que se perdeu,
Afogado talvez.
A violência do amor
Prosperou a vida,
Que evaporou
Como cinzas de incêndio.


domingo, 18 de outubro de 2015

SEM TÍTULO (A PROMISCUIDADE DE UMA SOMBRA)

A promiscuidade de uma sombra
Esfria no canto de uma esquina.
Meus olhos esquentam
Por causa da luz da sombra.
Vejo um casal sentado em um bar
Conversando por rede social no celular.
Por um momento minha inspecção
Confunde a subjetividade de um no outro,
Transferindo a de um para o outro.
As personae online se mesclam
Com a subjetividade de ambos trocada
E no ínterim altera a realidade
(Não sei se mais a minha ou mais a deles).
A (auto)biografia ficcionalizada deles
(Toda (auto)biografia tem sua ficção)
Se exibe em um fio de cabelo que cai
Da cabeça dele ou dela
(Não sei quem é ele e quem é ela,
Digo, não sei quem é o homem e quem a mulher,
Digo, não sei ao certo
O que é homem e o que é mulher).
Agora estou online.
Agora não mais.
Não faz tanta diferença.
Uma nuvem promíscua chove.
Limpa a sujeira, menos a divina.
Há uma mistura de intenções aqui e ali.
Encontrar pessoas na rua é erotismo,
Ainda que latente
(Porém não sou freudiano).
Uma mulher passa e leva junto
Toda a elaboração do meu mecanismo desejante
Que continua exercendo sua função indefinidamente.
(Não sou freudiano.
Freud é brilhante).
As femmes fatales não existem.
Por isto, existem bastantes.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A REACINHA

Já amei a que com Marx queimava a xana.
Hoje amo a liberal reacinha.
Quando falo em Mises molha a calcinha
E diz que vivemos em uma ditadura bolivariana.

A reacinha também diz que me ama.
Tudo que é vermelho odeia,
A não ser a cabeça do meu pau que incendeia
Seu corpo quando aprisionado na cama.

Nosso jogo erótico “Oprimido e Opressor” se chamaria.
A revolução se dilui em gemeção apoplética.
Amigo dizia que ela não valia nada, mas mais valia
E vale que qualquer miçangueira da dialética.


SEM TÍTULO (PASSEANDO POR UM PARQUE,)

Passeando por um parque,
De madrugada,
Você meiossorri, senta no banco
E seu corpo inicia
Uma imperceptível transfiguração.
Não há ninguém na madrugada,
Só árvores, bancos
E um pouco de terra.
Mas eu consigo captar os indícios.
Seus cílios se assemelham
A Sêmele: se assemelam.
Aquele das árvores
- O vento - te liberta os cabelos,
Lufante carícia, carícia a lufanar.
Não há nada, ninguém,
Nem bebida, nem dança,
A não ser a do vento,
A não ser sua saliva
Que experimento por momento
No presente do passado
(Santo Agostinho
A definir a transcendência do meu prazer).
Você não fala, só meiossorri
Com os olhos bêbados
De ausência de bebida.
Ou então por causa
Da noite com a qual comunga
Sem diretamente perceber,
Ou do vento libertador.
Você não fala, não grita,
Não corre, bacante cansada que é,
Bacante que gosta de banco de parque...
Você, a lua e o vento:
Mênade ménage que invento
Para poder acompanhar
O labirinto do desejo
Que no seu corpo
É menos grito e mais calar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

SUSTADO DIA

Amanhecem alaridos,
Sons motorizados,
Gritos de crianças.
De repente tudo performa.
O funcionamento do dia degringola.
Deve ter sido algum motor
Assustado pelos gritos.
É mais frágil que parece.
Ou mal construído?
O simulacro do meu palco,
Na minha cama, se realiza,
Dessimulacra.
Desrealiza o que está lá fora,
Lá tudo performa.
Levanto, ergo meu lamento,
Minha angústia muda
Mesclada ao prazer
Da manhã de certa forma
Bem acordada,
Já que aqui ainda estamos
- Os mesmos e outros?
Não sei qual acordo haverá,
Mas antes de eu passar
Pela porta da frente
Tenho de retomar o palco.

domingo, 4 de outubro de 2015

REFLEXO

Li
Po
Pergunta:
“Po
Esi
A”?
Res
Po
Nde
Tu Fu:
"A lu
A”.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

SEM TÍTULO (UMA MULHER, SEM QUERER,)

Uma mulher, sem querer,
Cuspiu sua luz em minha boca.
A ponta orvalhada de uns cílios
Quase sonhou um brilho equívoco.
Uma beleza errante procura
O momento de um drama,
Aguarda a lucidez de outra situação
Que a agencie e exalte.
O gosto do abismo assalta
Meus pés de asas feridas.
Adentro um tufão
De salivas e palavras
(Salivas enteiando palavras).
A fumaça dos carros
Se mistura à saliva e ao palavrório.
A beleza (com alguns inconfessos
Desejos de zimbório)
Distorce o rosto das pessoas
Que passam pelas ruas.
Vai distorcendo, transformando
Tudo ao redor, provisoriamente,
Líquida, esvoante, sem parada.
Eu a perdi novamente.