sexta-feira, 31 de julho de 2015

ZUMBIDO NO OUVIDO

Tarde amena.
Grilos ao fundo.
Bucólico poema.

domingo, 26 de julho de 2015

SEM TÍTULO (ACORDEI COM DESEJO)

Acordei com desejo
De beijar a vendedora
De flores mutantes.
Acordei com desejo
De voltar a dormir
Para seguir o rastro odorífico
De chás exóticos
Do caminho de meu sonho.
Mas a vendedora
De flores mutantes
Cheirou mais marcante.
Acordei em nome dela,
Por ela, para encontrá-la.
Sei que não conseguiria encontrá-la.
Suas flores emurchecem
Cinco minutos após eu despertar.
No café da manhã, tomo chá.
Com pétalas de rosa
Boiando seu perfume.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

SEM TÍTULO (UM BRILHO BRUXO NO FINAL DO PINGO DE SUA SALIVA QUEM AMA AMA O QUE VEM DE DENTRO O SABOR DA SALIVA)

Um brilho bruxo no final do pingo de sua saliva quem ama ama o que vem de dentro o sabor da saliva a queimação da urina o odor das fezes ela sonha em experimentar o próprio seio esquerdo tento procurar no Google como fazer quais os procedimentos é preciso cuidado como jantar um pedaço da amada junto com ela a mais bela luz de vela seu sonho de nulificação vela seu desejo de me ver – voyeur - canibal range meus dentes matilha me faz gostar do gosto e do odor das sujeiras que ficam na língua ao amanhecer – minha e dela – seu cu cult como saído de filme francês pisca antes dos gazes para que sua essência me transforme em mais perverso des Esseintes seu arroto no momento exato das palavras finais sobre a écriture barthesiana para após outro arroto iniciar uma conferência babenta sobre a riqueza com que Ricoeur absorveu o Estruturalismo e a semiótica greimasiana e os transcendeu hermeneuticamente a meleca de seu nariz é mais dourada que ouro tirado de nariz bilaquiano a cera de seu ouvido derrete na boca como sorvete de baunilha ferido pelo sol do meio-dia a bege amarelada marca cicatriz de nascença perto de sua virilha uma tatuagem a cobrirá ou não tomara que não tomara que não tomara que não nenhum neologismo mot-valise carroll-joyce-rosiano irá decifrar o enigma inominável desta marca cicatriz amarela e bege com a qual a natureza a presenteou sou só boca sou só boca e todas as partes de meu corpo que a leitura acabe.

domingo, 19 de julho de 2015

SEM TÍTULO (UMA FACA SÓ LÂMINA)

Uma faca só lâmina
Reflete uma estrela só brilho
No parapeito da mesa.
Um pressentimento de aborto
Contamina a lua,
E uma ansiedade erótica o meu peito.
Metáforas se multiplicam,
Proliferam, colidem:
Mundos colidem,
A guerra é real e virtual.
Não existe mais proletariado,
Mas precariado e refugo.
Até onde as metáforas?
É preciso algum território,
Alguma territorialização.
Hoje: discutir o ocaso da metafísica
(Algo de Nietzsche, provavelmente)
E conferir a última bunda
Sob o rótulo break the internet.
A última bunda viral,
A última banda de metal.
Me lavo no banho.
Um resto de líquido vaginal imaginário
Escorrega de minha boca até o ralo.
O cheiro do ralo...
Limpo até.
(Metáforas proliferam.
Até onde?).

quinta-feira, 9 de julho de 2015

PETIT GÂTEAU

Uma nuvem
Envolve o último andar
De um prédio:
Bigode nietzschiano
Sustentado pelo braço
Como em famosa fotografia.
Um inseto de fogo
Risca o ar, arisco.
Talvez uma abelha,
Com a exclamação
Do seu ferrão.
A mendiga maluca
Está sentada perto de mim.
Sinto seu odor feroz
E seus gatos miam perto dela.
Ela grunhe, gesticula
Com a voz estranha, distorcida
E tento realizar, ludicamente,
Em minha mente,
Uma provisória postura estética
Que aliasse Augusto dos Anjos
E death metal.
Após, vou tomar um café trufado
E, como efeito de fantasia ditatorial,
Truffaut trafega
Pelas imagens dispersas
Que minha imaginação desperta.
Café trufado, depois um frappé.
Por fim, um petit gâteau.
Tão pequenos os gatos da mendiga,
Miando seus gestos,
Mirados para ela.
Também mendigando restos.
O bigode de Nietzsche
Já deve ter esvaecido,
Tão cofiado que foi.
Ele esvaece onde não há
Vontade de potência.
Um sentimento de barbárie
Se apossa de mim
Quando engulo o último
Pedaço de sorvete.
À noite, gatos vêm brigar
No meu telhado.  

terça-feira, 7 de julho de 2015

SEM TÍTULO (SINTO O ODOR DO MEU CORPO,)

Sinto o odor do meu corpo,
Do meu cabelo caindo
E deixando um espaço na cabeça,
Molhado de água amarela do sol.
O céu está um mar amarelo.
Agora o odor das plantas, no jardim.
Da pele suja de terra da formiga
Caminhando na planta do jardim.
O odor difícil da teia de aranha no orquidário,
De suas moscas estocadas.
A dor de uma nuvem retorcida não cheira.
Só a água do sol, que não é inodora,
Assim como nenhuma água o é.
Começa a esfriar...
Enfim, odor de constipação,
Subsumindo todos os odores.

domingo, 5 de julho de 2015

COTIDIANO

Bebo o sangue de Cristo
No ketchup do McDonald’s.
Como freira, uma atriz pornô
Em um cartaz no fundo da locadora
(Já almocei a missa),
Ri de Alain de Botton.
Um cão invisível late
E eu mais vejo do que ouço o som.
Uma atmosfera amorosa
Atravessa a calçada com pressa
E se concentra, talvez para sempre,
No bolso da calça
Da menina de cabelo azul.
Azul que compensou a falta dele no céu.
Minha cota de cotidiano
Escorre um pouco com água
Para um bueiro.
Observo a polícia na rua, azulada.
Mas há quase só milícia.
Algo no dia me alicia.
Alguém cita UPP e entendo PCC.
Isto é sono.
É delicioso sentar na praça,
Ao sol, lagartinando,
Quando se está com algum sono.
(Sou muito provinciano.
Não quero “vencer” na vida.
“Vencer”, às vezes, é perder muito).
Minha visão de mundo é estética,
E no meio da província.
Muitos mentem sobre o sexo.
A biologia, por exemplo.
Gosto de acrescentar um tom
Meio ridículo em muito do que faço.
Uma suave auréola coroa uma árvore
Algo desmembrada.
Uma bailarina enlouquece na rua.
Sua dança desangula o dia
Em seu mecanismo dito neutro.
Vejo a barriga de uma grávida
Com olhos de membro de grupo
De Charles Manson e imagino
Quanto o filho será parecido com a mãe.
Terá de ter linhas tênues,
Como aquela linha de lã
Que traça o horizonte... 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

SEM TÍTULO (COMO EM UMA EXTENSÃO TODA DE AREIA)

Como em uma extensão toda de areia
Movediços abismos sugassem
Elementos fugazes do fluxo da memória.
Abismos produtivos,
Irmãos imaginários da imaginação,
São a saúde do esquecimento
E a necessidade da narrativa
Que precisa ser criada
Nos negaceios, nas elipses
De sua vida natural.
Assim é bem-vinda toda brecha;
Toda fissura, necessária.
E assim toda pureza linear
É falsificação.