segunda-feira, 30 de abril de 2012
A MARCA
segunda-feira, 9 de abril de 2012
POEMA DE FAMÍLIA
Volto para casa excitado
Após observar uma briga de travestis.
Excitado a ponto de espancar minha mulher
E violar minha filha.
Mas não tenho mulher nem filha.
Então resolvo entrar no Facebook.
O mesmo, o eterno retorno do mesmo:
Mulheres promíscuas ou que traem
Vomitando frases amorosas
Com a cara fake do Caio Fernando Abreu.
Penso em postar um poema com o intuito
De que algum crente da auto-ajuda
Ou bombado citando espiritualismo de boteco
Me chame a atenção ou ofenda...
Mas esta fenda de meu exibicionismo é o tédio...
O tédio de não ter uma mulher para espancar
Nem uma filha para abusar.
E eu que sou tão generoso, meu Deus!
Queria conquistar mulheres com defeito
(Físico e mental)
E fazê-las felizes.
Não falo para épater (Le bourgeois c’est moi)...
Falo por tédio.
E eu gosto da palavra “defeito”.
Não gosto da palavra “padrão”, ou “conserto”.
Passo patê na bolacha
E navego em pornografia
Para fazer digestão
E para aprender mais
Sobre a violência física e emocional contemporânea.
E nenhum Agamben
Profanará tal dispositivo.
Saio da internet
E, por extravagância ou outro tipo de ânsia,
Procuro – L’Hermite contemporâneo –
Uma mendiga que aceite pagamento por boquete,
Ou melhor, blowjob.
Que falta uma mulher e uma filha
Fazem a um homem!
Algum esperto me fará alusão a Bukowski
Ou outro autor do mesmo tipo que não sabe escrever.
Não bebo, não fumo.
Só queria uma mulher defeituosa
E uma filha que soubesse agradar o pai.
Penso no que o patê possa épater
E fico enjoado...
Entro novamente no Facebook
E nenhum book abolirá este descaso...
A não ser o do sentido já impuro do Mallarmé.