sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

PAPA-DEUS


Quero canibalizar Deus.
Sua luz será o brilho
De um besouro avermelhado
Explorando sua região escrotal
Enquanto morre na cruz.
Quero canibalizá-lo
Na semi-escuridão intermitente
Da tocha dura do inseto inquieto.
Quero travesti-lo de Madalena
Na esperança de que adquira seios
Para que eu possa comer
Ao menos um.
Deus é uma flor cheia de espinhos,
Uma fonte de chaga.
Quero violar os caminhos da chaga
Até chegar ao seu olho.
Quero babar a gosma de seu olho
E matar este besouro
Que não o deixa em paz.
Quero que Deus sofra de amor por mim
Mas morra na masmorra
De minha boca.
Quero minha fé até o fim.
Então poderei comer saudavelmente,
Comer como um momento de privilégio.
Então poderei transar saudavelmente,
Como um momento de privilégio
Que criarei no momento propício.
Chorarei horrores perante o horror
De um gato torturado e morto;
Ou melhor, não chorarei...
Comerei sua carne como como Deus,
Mas comerei com mais autenticidade,
E algumas lágrimas poderão depois surgir.
Já comerei puro, comerei sagrado
A carne já pura do amor...
Um gato torturado e morto:
A carne pura do amor.

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