segunda-feira, 7 de julho de 2014

MITOLOGIA

É impossível amar uma mulher
Sem amar, de algum modo,
Também sua mãe.
Como não amar os traços essenciais,
As sutilezas genéticas,
O desenrolar da narrativa genealógica?
Traços essenciais:
Mirar a mãe como um Miró
Apaixonado pelas origens,
Mirar a filha como reincorporação
De um mito fundante.
Como não amar a vida
Da filha na mãe,
E a vida da mãe na filha?
E se a filha tiver uma filha
(Do apaixonado do poema
Ou de outro apaixonado
Que não do poema, mas no poema),
Como também não amá-la?
O amor só pode ser
A continuidade de uma mitologia.

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