sábado, 19 de julho de 2014

AQUÉM

Todos vamos narrando nossa própria vida.
Vamos enredando um roteiro,
Estabelecendo ligação entre acontecimentos,
Desenvolvendo um personagem: nós.
Viver é também uma performance discursiva.
O silêncio performatiza as entrelinhas
Do discurso, mas quase nunca o momento
Da vertigem em que o vazio
Cria a promessa de acesso
Àquela revelação negada
De que o próprio silêncio pode estar
Aquém do discurso e do simbólico,
Aquém da própria vida;
E de que o silêncio nunca se diz.
O que estou dizendo ou calando
Nada tem a ver, assim, com silêncio. 

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