sexta-feira, 6 de junho de 2014

O SANGUE DIÁRIO

Há sangue em minhas mãos.
Não matei ninguém.
Ninguém morreu nelas.
Nenhuma mulher menstruada
As devorou com prazer.
Não tenho ferimentos.
Sujo as pessoas,
Mas não percebem.
Engulo com sangue minha comida.
No banho, saio mais sujo.
Não fica pisado o sangue
Em minhas mãos,
Fontes da vida e da morte.
As lambo como alucinado
Em estado de surto,
Olhos arregalados, sedento.
Minha língua fica mais vermelha.
Se eu decepar uma mão,
Conseguiria, após, decepar a outra?
Sou um Cristo sem cruz.
Onde os que me pregarão
E matarão?
Quero logo ressuscitar.
Na esquina, levo um tiro no coração.
O sangue continua nas mãos,
Encharcando tudo,
Avermelhando a esquina
Como se ele
Readquirisse sua liberdade.

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