terça-feira, 10 de setembro de 2013

ENCANTO


Alguma coisa em você me enlouquece,
Move o chão, desestabiliza.
Sua língua é um doce cristalizado,
O som de seu discurso uma barrouquidão
Que aquece o hálito dos seios
Arqueados em maliciosa circunspecção
Vigiada pela arcada das sobrancelhas
E suas sérias sombras sensuais,
Como se o formato de S
Fosse afrodisíaco como seu som,
E o som do discurso na língua
Que é um doce cristalizado de abacaxi.
Alguma coisa em você me enlouquece,
Mas esquece isto tudo
No momento de enlouquecer.
As pernas bailarinas russas,
Destoadas em uma peça
Quase sem plateia,
Movem os cabelos luminosos, mudancistas
Como uma artista promíscua de corpos
E intertextos,
Cabelos que se aproximam e fogem
Da bunda inquieta
Como se estivesse sendo observada
Enquanto alguém escreve um poema
Ou pinta um quadro;
Bunda com intenções de nu,
Mas preocupada por imaturidade profissional.
O que me enlouquece em você
É, porém, a própria loucura,
A cortina entreaberta, a brecha, a lacuna,
A festa da fresta da loucura
Que atesta ao mesmo tempo
Sua humanidade
E sua singularidade mais pura.


Um comentário:

Hercília Fernandes disse...

E o seu poema, Bonfá, é arrepiante, ensandece-nos os sentidos.

Versos que tiram o fôlego, tamanha a beleza das figuras imagéticas e expressivas combinadas.

Os versos finais, nem preciso falar, né?

Uma coisa que admiro muito em sua poesia é o constructo, qualidade que denota a riqueza de suas referências e atividade mental, especialmente quando propõe-se a fechar o círculo do poema.

Excelente texto, desses que não sei! (risos).

Grande abraço, meu amigo. Que venham mais e mais iluminações assim!