sábado, 21 de setembro de 2013

APOLOGIA DA MAQUIAGEM

A mulher se maquiando é uma potência de hiato temporal.
Tudo ao redor se estabelece como foco
Para que o ato perfeitamente ocorra.
A cor adquire uma substancialidade artística,
Uma função moral contra a natureza,
Ou então uma função moral de se relacionar
Com ela de modo mais profundo.
A superficialidade da maquiagem
É superficial somente na superfície;
O rímel ri e a sombra sorri
Desta superficialidade de superfície.
A maquiagem autêntica não é, em primeira instância,
Para os outros nem para si, mas para o ato em si.
É um diálogo em silêncio ritual,
Um estado crítico sempre maquiado
De outras espécies de estados,
E não se imagina que em uma nécessaire
Há o necessário para que se trave
Uma vereda intuitiva entre Rousseau e Baudelaire.
A mulher é bela com ou sem maquiagem,
Mas o ato tudo modifica,
Cria a hipótese de se alterar o rumo
De agenciamentos do corpo e da natureza,
Do corpo e do corpo.
A mulher maquiada é esta criação,
Esta hipótese ambulante aberta à discussão,
Por mais fechada e na superfície que possa parecer.
A mulher é, no fundo, sempre bela.
É a aparição, o mundo aparece através dela.
Mas não é a mulher que, no fundo, usa a maquiagem.
É a maquiagem que a usa como medium.
A maquiagem é aquela verdade através da ilusão. 

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