segunda-feira, 8 de julho de 2013

UMA FILOSOFIA DE CAMA

Uma pele escamada, por dedos molhados
Antes levados aos lábios folheada,
É um livro, uma cultura, um repertório simbólico
Compartilhado coletivamente
Na solidão com um parceiro
De uma (eterna) noite ardente.
Como evitar neste momento (eterno)
A voz tentadora deste memento more que não morre,
O fóssil que finge vida
Com a inscrição “semper eadem” nos ossos
A encaracolar o silvo da serpente do Éden?
Como demover a ossatura da cultura
Folheando com os dedos molhados
Uma pele escamada
Em uma noite (eterna) na solidão compartilhada?
Remover cada escama que se enrosca na cama?
Descamar (levantar da cama)?
Desenvolver um novo arsenal simbólico
A partir do que se ama?
Reconferir este amor de modo a compor
Uma nova relação entre folha e cama
Até que a noção de cultura
Se torne uma sensação temporal
Na qual a eternidade é eterna somente enquanto dure
Uma outra sensação de vertigem e ilusão
Que reivindique para a eternidade
Uma eterna progressão
Onde o progresso eterno (tão nosso)
E a eternidade (tão nossa),
Esta sendo um processo, um devir,
Uma contingência eternizada em cada porvir,
Assim constatando que cada página
Será uma mentalidade repaginada,
Serão uma pele nova com o desejo de eternizar
Cada contato, cada toque,
Mas que a cada folheada
Exige que tudo
- O contato, o toque, a saliva,
O jeito, o trejeito, e de tudo isto
Um símbolo que se move -
Se comova e se retoque e se renove
Como uma pele viva e racional que semove
No mais árido areal e no colchão mais mole?

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