sábado, 4 de maio de 2013

PRAÇA


Há um espírito das praças.
Fauno das pequenas floras, das domesticadas floras
E famílias compartilhando filhos e fofocas.
As crianças brincam com o espírito das praças.
Correm ao seu encalço.
De dia é esta familiarização
De uma numinosidade um pouco mais cara
Àqueles que, à noite, se comunicam
No interior do espaço vazio da multidão,
Da pequena multidão.
O ambiente fosfóreo propicia e repercute
Uma dimensão de abertura
Onde se suspeita onde tanto o escuro conflui,
Onde tangencia e enlesma
Sem mácula tangível sua pressurosa espessura
Como uma só própria carnadura
Com a luz, com a luz da lâmpada,
A luz cristalizada do talher,
A luz mais fosca da xícara, luz fóssil.
Um homem come uma porção de grãos,
Um skater machuca o asfalto,
Um casal observa a piriguete rebolar
E o pretensioso perigo do seu olhar.
O espírito está feliz, acolhe todos,
Assalta todos com a sensação de estar em algum lugar.
Alguns sentem, outros melhor compreendem sentindo.
O poeta, já preguiçoso mas ainda poeta,
Enceta ver a estrela na xícara,
O olho de uma mulher no céu
(Mulher sentada em um banco)
E cria a partir desta relação um triângulo dinâmico
De rara iluminação
Com a qual passará uma parte da noite.
O comerciante pensa que viu jóia.
O maconheiro da praça já não vendo o triângulo
Até gosta; o espírito também o alicia
E após com ele se delicia no ritual
De uma santidade nóia. 

Nenhum comentário: