quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O amor ama o outro corpo,
Se corporifica no outro corpo,
Se modifica, se sente mais,
Modifica e sente mais o outro,
Mesmo que o outro
Permaneça e seja indiferente.
O amor ama o que o outro corpo
Tem de limpo e de sujo,
Ama o luxo e o lixo do corpo.
Se embebe em urina,
Cheira fezes, órgãos sexuais,
Hálito matutino.
O corpo se corporifica no outro
Antes como risco de cisão
Do que como andrógino de Platão.
Antes como risco de deriva
E derrisão, é o amor este perigo
De corpo inteiro.
O corpo inteiro inteiramente
Entregue ao risco da mutilação,
Da separação da cirurgia
Sem anestesia.

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