segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A CIDADE ORGÂNICA

Presto a atenção e legitimo sensações (nem todas) desagradáveis:
Minhas entranhas tentam brincar de bondage,
Uma convulsão úmida e bífida morde minha língua...
Há sombras estranhas também em seus olhos,
Como as de uma cidade que conheci somente na imaginação
(Ou em fotografias misteriosas).
Por mais iluminados que sejam os cabelos,
Haverá sombras nos muros por eles despejadas.
Meu intestino tenta me estrangular
Após ser extraído em uma tortura indiana.
Talvez as entranhas não sejam minhas,
Talvez sejam da própria cidade drapejada;
Ou então a cidade já seja orgânica a ponto de ser seus olhos,
E quando digo seus talvez sejam os meus, os dela ou os seus.
Há algo amoroso e falso nos olhos:
Há, em suma, sombra, um sombreado.
A cidade urina na água da chuva, embebe cães,
Bebe bêbedos e os olhos permanecem vagando
Vegetabundos, meio melancólicos, meio sorridentes,
Nas ruas (luzes não descolorem sua sombra);
Ou então fingindo espreitar por janelas de casas já mudas.
A noite me fez tão mal a ponto de eu desejar o dia,
O tão triste dia, tão esclarecido
Quanto um amor que, deixando de ser noturno, desapareceu. 

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