segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O SANGUE DA MEMÓRIA

O perfume nostálgico da mulher que amei
Se mistura com o odor ácido e enjoado
Da urina que monopoliza a sugestão olfativa
Daquela esquina mal iluminada.
Esta mistura suscita, de modo inesperado,
Um novo agenciamento na memória
E o nojo invade minha sensação de amor.
Tento purificar minha memória
Indo até uma praça para que o odor
De folhas úmidas aguce
Uma nova ilha de sensações.
Há sangue em algumas folhas mortas:
Houve briga, e bem violenta.
O odor do sangue ativa a sensação dúbia
De sofrimento e nascimento.
Minha memória sofre e renasce,
E assim minhas lembranças sofridas
São ao mesmo tempo lúdicas,
São crianças que viveram bastante,
E o tempo as fez, neste momento,
Mais infantis em sua seriedade.

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