quinta-feira, 1 de agosto de 2013

FARDO

Uma Salomé aprende a dançar na multidão.
Recostado a um café devasso,
Devasso seu olhar como um Herodes contemporâneo,
E meu ridículo cesário me permite
Articular mentalmente espécies de odes de Eros
A esta figura estéril (de seis filhos).
Salomé histórica traída pela própria história,
Se transforma em uma Eva pandórica.
Agórica, seu ínsulo e perfeito olhar se insulamita agora
Em algum outro mito com a imediatez de um insulto brusco
Como se, fescênia, procurasse um fator etrusco
Que confrontasse e metamorfoseasse tradições.    
É insulado, porém sibarita no olhar
Chispas que regam seu regaço,
Mas com um ar indolente insuflado
Que, de inflado, faz com que se amoleça
Como o creme do doce que, doce e meiga, experimenta.
Começa então a nadar na multidão como Nadja.
Como a realização do método crítico-paranóico,
Meu olhar a partir dali simultaneia
Helena de Tróia, Vênus, Diana, Herodíades...
Anadiómena, homenageia uma flor
Fazendo concha com as palmas das mãos.
Sente o fardo da mitologia,
Sente o fardo do meu olhar.
Se sente mulher, se vê mulher. Chora...
Depois para de chorar.

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