sexta-feira, 22 de março de 2013

A PIRA


Há fogo na boca, no hálito,
Há algo de dragão no homem,
No ladrão de fogo
Que se tornou o homem;
O homem que é a criação criadora
Que se cria roubando,
Roubando para si o que para si exige.
Há fogo na palavra,
Queima o ar, faz afogar
No fogo que fica no ar,
Nas cinzas quentes com odor de alguma coisa
Que permanece (e ainda aquece).
Há sempre fogo no ar, no corpo.
Se sente o corpo pelo fogo e pela água.
A boca é o reino de água e fogo,
E não só a boca.
O desejo é fogo, a fé é fogo.
O mundo é um incêndio
E tem a água como aliada.
É a água que acende e evidencia o poder do fogo.
O homem lê e a página queima.
Queimará sempre que se leia.
Ler é a consagração de um instante de fogo
Que revela ao homem que ao seu redor é o fogo.
Desejo (aqui o grande fogo) ao homem
A queimadura do beijo,
A prisão de fogo do abraço
E o fogo de fé de algumas palavras...
E também o fogo de todo sofrimento digno de sofrer.
O homem precisa queimar.

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