segunda-feira, 9 de abril de 2012

POEMA DE FAMÍLIA

Volto para casa excitado

Após observar uma briga de travestis.

Excitado a ponto de espancar minha mulher

E violar minha filha.

Mas não tenho mulher nem filha.

Então resolvo entrar no Facebook.

O mesmo, o eterno retorno do mesmo:

Mulheres promíscuas ou que traem

Vomitando frases amorosas

Com a cara fake do Caio Fernando Abreu.

Penso em postar um poema com o intuito

De que algum crente da auto-ajuda

Ou bombado citando espiritualismo de boteco

Me chame a atenção ou ofenda...

Mas esta fenda de meu exibicionismo é o tédio...

O tédio de não ter uma mulher para espancar

Nem uma filha para abusar.

E eu que sou tão generoso, meu Deus!

Queria conquistar mulheres com defeito

(Físico e mental)

E fazê-las felizes.

Não falo para épater (Le bourgeois c’est moi)...

Falo por tédio.

E eu gosto da palavra “defeito”.

Não gosto da palavra “padrão”, ou “conserto”.

Passo patê na bolacha

E navego em pornografia

Para fazer digestão

E para aprender mais

Sobre a violência física e emocional contemporânea.

E nenhum Agamben

Profanará tal dispositivo.

Saio da internet

E, por extravagância ou outro tipo de ânsia,

Procuro – L’Hermite contemporâneo –

Uma mendiga que aceite pagamento por boquete,

Ou melhor, blowjob.

Que falta uma mulher e uma filha

Fazem a um homem!

Algum esperto me fará alusão a Bukowski

Ou outro autor do mesmo tipo que não sabe escrever.

Não bebo, não fumo.

Só queria uma mulher defeituosa

E uma filha que soubesse agradar o pai.

Penso no que o patê possa épater

E fico enjoado...

Entro novamente no Facebook

E nenhum book abolirá este descaso...

A não ser o do sentido já impuro do Mallarmé.

Um comentário:

Fred Caju disse...

Saudações quem aqui posta e quem aqui visita.
É uma mensagem “ctrl V + ctrl C”, mas a causa é nobre.
Trata-se da divulgação de um serviço de prestação editorial independente e distribuição de e-books de poesia & afins. Para saber mais, visitem o sítio do projeto.

CASTANHA MECÂNICA - http://castanhamecanica.wordpress.com/

Que toda poesia seja livre!
Fred Caju