quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

BARCA


Tudo o que ela tocou, olhou

Foi esterilizado pela noite, pela lua.

Acima a lájea fria,

Embaixo a luz dura.

Crueza do processo, como salvação,

Rendição, alguma enebulada cura.

Se do obumbrado ombro de deus

Fluiu algum frio sombrio de sepultura

É porque ela passou, tocou, olhou

As plantas, as águas, as pedras,

Braceletes, colares, cabelos.

O silêncio nos cílios pesa pouco.

Dessa vez sonolesce

Enquanto escurece. 

As plantas respiram profundamente,

As águas manam seus fios

Junto aos cabelos úmidos,

E os braceletes e colares de ambos

Se misturam, voluteiam

E se enlaçam nas pedras.

O silêncio dos cilícios,

Só o som das águas

E da respiração profunda dela,

Enfunada pela noite:

Embarcação do sonho.

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