sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

SEM TÍTULO (PASSO POR UMA RUA MADRUGAL.)

Passo por uma rua madrugal.
Por trás das folhas de uma árvore,
A lua se expõe pouco, somente um olho.
Um frio incomoda meu descoberto pescoço,
Como vindo de uma boca,
Mas que tenha perdido o calor.
Um velho passa encapotado,
Emite um zumbido de zumbi,
E me delira um sorriso sujo de creepypasta.
Naquele momento, no contexto da rua
Qualquer cor, qualquer borboleta
Perdida já o título ganharia
De kinky queen queer.
De uma janela pouco aberta
Ouço a estrofe musical:
“But I’m a creep, I’m a weirdo.
What the hell am I doing here?
I don’t belong here”.
Não vem da janela.
Vem do meu celular, sem querer.
Encontro o velho novamente.
Ele já tinha contornado algum quarteirão?
Não emite som nem sorri.
Na esquina um cão olha
Com suspeita para mim.
Ou passo o cão ou retorno com o velho.
Passo o cão, que transfere
O som e o sorriso do velho.
Atravesso a rua e, enfim, encontro
Uma borboleta perdida.  

Nenhum comentário: