Pávido
pavão
Se
apavorou com as próprias cores.
Seu
pesadelo é cromático
E
o persegue aonde vá
Pavonear
seus estranhos temores.
Belo
pesadelo vivo, o horror da cor
O
estonteia, o mortifica.
Já
não quer atrair as fêmeas,
Já
não quer exibir
Sua
vasta inutilidade seletiva.
Parvo
Pavo, Argos
Temente
ao seu próprio panóptico
De
ocelos, como se algo
O
tivesse arrependido.
Subjugado
pela autorreferência,
Seu
tormento autotélico
O
faz mais belo,
Sua
agrura mais ressalta
Sua
beleza a cada sobressalto,
A
cada desventura de desvairada ave
Ao
tentar um salto
Da
própria colorida e suave torre de marfim;
Mas
ao invés de descer mais iridesce
Sua
exuberância que mais a estremece.
O
pavão, tão belo,
Desconhece
a natureza da beleza,
O
pavor que ela carrega e exibe,
O
imprevisível, este susto incompreensível
Que
se abre e devora tudo.
Ou
talvez ele saiba muito;
Saiba
que a beleza
É
o pavão apavorado,
O
susto que quanto mais assusta
Mais
se exibe exaltado.
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