Alguma
coisa sempre permanece
E
se mistura com outras coisas que permanecem.
Há
correspondência
Entre
a permanência das coisas,
Entre
as coisas permanecentes.
O
último amargor da boca
Permanece
na comida após a despedida
E
vai deixar agridoce o doce da sobremesa,
E
vai se misturar com algum odor
Do
banheiro que vai costear
O
hálito da própria pessoa da despedida;
Mas
o hálito da pessoa da despedida,
Bastante
distante,
Será
banhado por um refluxo de menta
Ou
de rosas que alterará o cardápio olfativo,
Que
se tornará mais diverso e complexo.
Este
odor se esvai na memória e vai acender
Depois
a lembrança de alguma cena
Em
estado de déjà-vu que alterará o
presente
Como
um presente de grego do passado (mítico)
Que
escarafunchará um buraco no tempo
E
no espaço antes facilmente localizável.
As
coisas que permanecem
São
as coisas que não deixam nada sempre estável.
É
preciso a eternidade destas coisas
(Que
são coisas e não coisas)
Para
que a inércia se mantenha
Na
ordem do dia da volubilidade
De
todas as transformações,
Mudanças
bruscas e sutis,
Alterações,
deslocamentos, acidentes...
O
hálito da boca da distante pessoa da despedida
É
sintoma de que os astros ou a sociedade
Sofrerão
alguma revolução
Ou
de que os longos cabelos de Deus
Foram
levemente tocados
Com
um delicado revoluteio barroco.
Talvez
sempre haverá mais eco do que se pense
No
meio de qualquer meneio por mais oco.
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