Ela
se esqueceu do número, se lembrou do número na carteira, se esqueceu de onde
estava a carteira, se lembrou de que estava no sobretudo, se esqueceu de onde
estava o sobretudo, se lembrou de que estava no guarda-roupa do fundo, se esqueceu
de onde se localizava o fundo, procurou o fundo, que no fundo talvez não estivesse
no fundo, mas sendo no fundo a possibilidade de que não estivesse, devesse
procurar ainda o fundo, algum fundo, mesmo que fosse uma espécie de superfície
aparente ou mesmo uma superfície profunda, aprofundada em sua própria espécie de
superfície ao menos até enquanto durasse o discurso da durée que, antes de qualquer discurso, só em discurso se configura
para esta figura feminina que no Letes se esquece e após, esquecida, se esquece
do Letes, mas um orvalho nos cabelos ou nos olhos respinga nos lábios e novamente
ela se esquece no Letes e se esquece de tudo, e este ciclo, este eterno retorno
que também progride conflui de algum modo misterioso como alétheia para o fundo do seu peito (seu e não dela), que é também
uma espécie de superfície aprofundada, e lá só há esquecimento, lá ela se
esquece de, lá ela se esquece, seu coração (seu e não o dela, o coração, o eterno
símbolo vão) é o Letes.
terça-feira, 30 de julho de 2013
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