domingo, 18 de outubro de 2015

SEM TÍTULO (A PROMISCUIDADE DE UMA SOMBRA)

A promiscuidade de uma sombra
Esfria no canto de uma esquina.
Meus olhos esquentam
Por causa da luz da sombra.
Vejo um casal sentado em um bar
Conversando por rede social no celular.
Por um momento minha inspecção
Confunde a subjetividade de um no outro,
Transferindo a de um para o outro.
As personae online se mesclam
Com a subjetividade de ambos trocada
E no ínterim altera a realidade
(Não sei se mais a minha ou mais a deles).
A (auto)biografia ficcionalizada deles
(Toda (auto)biografia tem sua ficção)
Se exibe em um fio de cabelo que cai
Da cabeça dele ou dela
(Não sei quem é ele e quem é ela,
Digo, não sei quem é o homem e quem a mulher,
Digo, não sei ao certo
O que é homem e o que é mulher).
Agora estou online.
Agora não mais.
Não faz tanta diferença.
Uma nuvem promíscua chove.
Limpa a sujeira, menos a divina.
Há uma mistura de intenções aqui e ali.
Encontrar pessoas na rua é erotismo,
Ainda que latente
(Porém não sou freudiano).
Uma mulher passa e leva junto
Toda a elaboração do meu mecanismo desejante
Que continua exercendo sua função indefinidamente.
(Não sou freudiano.
Freud é brilhante).
As femmes fatales não existem.
Por isto, existem bastantes.

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