segunda-feira, 12 de outubro de 2015

SEM TÍTULO (PASSEANDO POR UM PARQUE,)

Passeando por um parque,
De madrugada,
Você meiossorri, senta no banco
E seu corpo inicia
Uma imperceptível transfiguração.
Não há ninguém na madrugada,
Só árvores, bancos
E um pouco de terra.
Mas eu consigo captar os indícios.
Seus cílios se assemelham
A Sêmele: se assemelam.
Aquele das árvores
- O vento - te liberta os cabelos,
Lufante carícia, carícia a lufanar.
Não há nada, ninguém,
Nem bebida, nem dança,
A não ser a do vento,
A não ser sua saliva
Que experimento por momento
No presente do passado
(Santo Agostinho
A definir a transcendência do meu prazer).
Você não fala, só meiossorri
Com os olhos bêbados
De ausência de bebida.
Ou então por causa
Da noite com a qual comunga
Sem diretamente perceber,
Ou do vento libertador.
Você não fala, não grita,
Não corre, bacante cansada que é,
Bacante que gosta de banco de parque...
Você, a lua e o vento:
Mênade ménage que invento
Para poder acompanhar
O labirinto do desejo
Que no seu corpo
É menos grito e mais calar.

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