quinta-feira, 9 de julho de 2015

PETIT GÂTEAU

Uma nuvem
Envolve o último andar
De um prédio:
Bigode nietzschiano
Sustentado pelo braço
Como em famosa fotografia.
Um inseto de fogo
Risca o ar, arisco.
Talvez uma abelha,
Com a exclamação
Do seu ferrão.
A mendiga maluca
Está sentada perto de mim.
Sinto seu odor feroz
E seus gatos miam perto dela.
Ela grunhe, gesticula
Com a voz estranha, distorcida
E tento realizar, ludicamente,
Em minha mente,
Uma provisória postura estética
Que aliasse Augusto dos Anjos
E death metal.
Após, vou tomar um café trufado
E, como efeito de fantasia ditatorial,
Truffaut trafega
Pelas imagens dispersas
Que minha imaginação desperta.
Café trufado, depois um frappé.
Por fim, um petit gâteau.
Tão pequenos os gatos da mendiga,
Miando seus gestos,
Mirados para ela.
Também mendigando restos.
O bigode de Nietzsche
Já deve ter esvaecido,
Tão cofiado que foi.
Ele esvaece onde não há
Vontade de potência.
Um sentimento de barbárie
Se apossa de mim
Quando engulo o último
Pedaço de sorvete.
À noite, gatos vêm brigar
No meu telhado.  

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