Há
um espírito das praças.
Fauno
das pequenas floras, das domesticadas floras
E
famílias compartilhando filhos e fofocas.
As
crianças brincam com o espírito das praças.
Correm
ao seu encalço.
De
dia é esta familiarização
De
uma numinosidade um pouco mais cara
Àqueles
que, à noite, se comunicam
No
interior do espaço vazio da multidão,
Da
pequena multidão.
O
ambiente fosfóreo propicia e repercute
Uma
dimensão de abertura
Onde
se suspeita onde tanto o escuro conflui,
Onde
tangencia e enlesma
Sem
mácula tangível sua pressurosa espessura
Como
uma só própria carnadura
Com
a luz, com a luz da lâmpada,
A
luz cristalizada do talher,
A
luz mais fosca da xícara, luz fóssil.
Um
homem come uma porção de grãos,
Um
skater machuca o asfalto,
Um
casal observa a piriguete rebolar
E
o pretensioso perigo do seu olhar.
O
espírito está feliz, acolhe todos,
Assalta
todos com a sensação de estar em algum lugar.
Alguns
sentem, outros melhor compreendem sentindo.
O
poeta, já preguiçoso mas ainda poeta,
Enceta
ver a estrela na xícara,
O
olho de uma mulher no céu
(Mulher
sentada em um banco)
E
cria a partir desta relação um triângulo dinâmico
De
rara iluminação
Com
a qual passará uma parte da noite.
O
comerciante pensa que viu jóia.
O
maconheiro da praça já não vendo o triângulo
Até
gosta; o espírito também o alicia
E
após com ele se delicia no ritual
De
uma santidade nóia.