Uma milf
só com espartilho negro chicoteia uma jovem nua de dezoito anos na pequena dungeon de sua casa, que ela elaborou
com tanto cuidado. As rugas e as cavidades de uma se encrespam na lisura suave
da outra. A língua que já disse tudo se liga à língua que já disse muito pouco.
Forte como o suor do sádico, o hálito, os cabelos, os seios de uma tentam prevalecer
recendendo seu poder, sua experiência, sua sabedoria, seu império, a inabalável
divindade. Mas a jovem, no auge da dor, adquire rugas, cavidades (matizadas
cavidades), lacerações que confundem feridas com o tempo, produzindo um novo
imaginário realizado na arqueologia do corpo. O rosto força as rugas, é forçado
às rugas. A experiência, a sabedoria da dor constrói, por sua vez, seu próprio império,
pacientemente. A outra, enquanto cheira e lambe o suor da dor, vai
rejuvenescendo um suor mais leve no próprio corpo, que alisa sua pele com a
ingenuidade do prazer, essa criança que cria o desejo de ser criança. O suor
catalisa o processo de modificação etária, nas vias de uma body modification que faz o natural conviver com o artificial. Quando
a criança que antes tinha sessenta anos, e agora menos de dezoito, agarra
tremendo pelo pescoço a idosa que antes tinha dezoito anos, e agora mais de sessenta,
e olha o sorriso dúbio da slave, sabe
que tem muito a aprender. E sabe que a beleza existe quando o crepúsculo de um
deus se tensiona, para sempre, com a ascensão de outro.
sexta-feira, 21 de abril de 2017
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