Saiu de casa com uma vaga impressão de
para onde iria. Não encontrou o fio de nenhum GPS mental, só um emaranhado de
sugestões, uma trança de acasos que poderiam compartilhar suas coincidências se
por um acaso coincidissem. Antes de sair, havia escovado os dentes. E o melhor
fio dental é o que quebra sob razoável pressão. Antes de os escovar, tinha
despertado, talvez. Essas temporalidades, esses atos, parecem não acabar, se mesclam
com o resto do dia, com o indefinido resto dos atos, passos, repastos. E mesmo
que se repassem, tais temporalidades, atos tais não coincidem em si mesmos,
perdem a substância, que nunca tiveram, trocam suas substâncias, que nunca
tiveram, compartilham-nas, nunca as tendo tido.
Caminhou,
percalçou as calçadas, caçou por onde pudesse encontrar o que perder. Não soube
ao certo o nome das ruas, esteve no avesso ou atrás de todo nome, de toda
nomeação, de todo rosto.
Se
deparou com uma profissão. Mudou de profissão durante o período da tarde, foi
demitido de todas. Demitiu-se de todas. Nunca soube ao certo com quais
profissões se deparou. Parou de imaginá-las.
Encontrou
uma mulher. Aquilo que chamamos uma mulher, ainda. Falou, desfalou. Falou desfalas.
Dirigiu-a à casa. Aquilo que chamamos casa. Falhou o falo, a fala do falo
falho. Falhar é um ato heroico. Não foi.
A
mulher se despediu, como aquilo que chamamos mulher, ainda, se despede daquilo
que chamamos, ainda, homem. Na ausência de outras palavras, de palavras outras.
Talvez algo de mulher tenha ficado nele, talvez algo de homem nela. Mas não há
substância.
Dormiu.
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