segunda-feira, 18 de abril de 2016

MILAGRES

Os lábios brilhantes de Maria
Lambiscam o tutano do sentido da vida.
Seus outros lábios brilhantes
Salgam mais sua urina sagrada
- Chuveiro da revelação - em meu corpo,
Depositando fé na oração
Após chuva dourada.
É preciso matar um deus
Para receber sua unção,
Para encontrar um milagre.
Esse próprio parricídio é um milagre
Que enriquecerá o espaço vazio
Da sua humanidade interior,
Que já é um glorioso cemitério de deuses.
Bebo o leite de mãe Maria
Com a malícia da ingenuidade
De uma criança.
(E se Cristo fosse um cabideiro?
Maria ali esqueceria alguma lingerie?).
Preciso retomar o amor de Deus
Ou de algum deus.
Satã trai, costuma ser traidor.
É preciso que nós traiamos os deuses,
Para que façam efeito.
Preciso de um deus primitivo
Que se aliasse à sua contemporaneidade.
Ricoeurtado de algum momento
Pós-freudomarxonietzschiano,
Ou vaticinado por Vattimo, ou...?
Ou ainda assim às vezes jaguarificado
Como xamãs de Mbaeverá?
Ou então erótico-batailliano?
Farei uma seleção de deuses
E verei qual deles me escolherá
Para que eu o escolha.
Porém marianista permaneço:
Sua urina me fascina,
Seu milagre é todo dia.
Que esse cemitério de deuses
Floresça após o inesgotável milagre
De sua chuva de ouro.     

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