quarta-feira, 20 de abril de 2016

METADE

Me posto perante a árvore,
Ela também se posta perante mim.
Estou descansado.
Ela me fala das raízes
De sua história antiga,
Sua remota origem.
Me fala de sua sexualidade dúbia
E de suas oscilações,
De seu baixo material e corporal,
Que teme o desmatamento,
O genocídio de sua raça verde.
Meus pés estão descalços,
Inclusive de discursos.
Sinto o verde e a terra
Como se quisesse encontrar raízes,
O discurso da árvore.
Minha língua vermelha
Nunca será uma folha verde.
A árvore continua falando
Enquanto meus pés se esforçam
Para irem mais fundo.
As raízes de minhas veias arbustivas
Sangram vermelho, igualmente.
A árvore também descansa.
Compreendi metade do que ela disse.
A metade que não compreendi
Talvez seja a mais importante.

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