terça-feira, 22 de junho de 2010

Lavrar a palavra
Para que ela lavre
A insistência de penetrar a existência;
Sendo que, antes,
Já palmilhando fresta, brecha, intermitência
Logrou a máscara produto
Das matérias que, agora,
Cumpre ou deseja retomar como solúveis,
Ainda que por força de autonomia;
Esforça a passagem
Como a deixar nostalgia do branco
Em uma condição de presença arredia,
Rememorando o rastro devassado
Mas sem de Ariadne alguma previdência
Haver indiciado.
Então labirinto,
Taurino obstáculo anuncia
Que heroísmo se faça premente.
Mas anuncia, somente.

GORGÔNEA

Abstrusa musa
- Musa e medo.
Medo que usa
A pedra como meio.
Que recusa qualquer enleio,
Ainda que multiplicado pecado sugira
A ofídica figura.
Mas toda ira já não me causa receio.
Receio do bordão
Da pedra no seio,
Ou melhor,
No coração.

OS DEUSES

Pobres imortais!...
Os deuses não sentem o prazer
Da vida passar.
A volúpia da decomposição
Pressentida no corpo que,
São, observa, mesmo em pranto,
O outro (é o outro que nos revela a morte)
Eufemismado por flores
No sepulcro.
Eufemismado em aspecto, odor, comportamento
(Não ir ao supermercado).
Este pranto, a volúpia no avesso,
Sonha incorporar ao solo,
Pelo sal,
O corpo vertical.
Os deuses não despertam o prazer
Do prenúncio do fim
Após orgasmo -
Abraço fundo com mistério
Rebuscado.
Os deuses não intuem o prazer horizontal.
Não quero perenizar esta consciência intermitente,
Este engenho sutil, esta volúpia.
Não.
Eu quero morrer!...

domingo, 13 de junho de 2010

Deus:
Única Imaginação
Que - porque única -
Do nada,
Do sem-parâmetro,
Criou.
E criando,
Criou algo,
Algo que não é nada,
Ou melhor,
Algo que é algo.
Criou o parâmetro.
Homem:
Única imaginação
Que criou Deus
À sua imagem e semelhança.
Única criação
Que cria o criador.