terça-feira, 5 de setembro de 2023

CONVERSÃO

O hálito betumado de silêncio

Pesou leve: uma febrícula,

Uma plântula, um pelo de tarântula,

Uma vênula; que se uniu a um plexo,

A uma rede venal, a um micelial complexo,

A um rízico gracitar da graça

De deslocar a retina e a rotina,

E de os olhos, cheios de deuses e trevas

Délficas, se arrependerem de só descrer.

Ela passou, aural, com as orelhas élficas,

Urbanas, modificadas, e o frágil

Charlar do silêncio com as vozes

Algaravares e com a lua alvar

Desvelou nos tênis do oráculo

Desapossado, despossuído, incerto,

Gothic, e punk, grego, sinistro e tropical

- Uma gata ronroncando, com os olhos,

Um ritual animal, e verdades didélficas.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

SEM TÍTULO (BÁQUICAS E BAKÚNICAS,)

Báquicas e bakúnicas,

Ensaio de selenofilia

Pós-beck ou pós-Beckett,

As veias bailarinas, rúnicas,

Se aprofundam

Na noite do corpo,

Até que uma estrela sanguínea

Aponte um horizonte

De dança

Ainda mais aberta.

domingo, 24 de julho de 2022

OCUPAÇÃO

Uma ocupação felina

Desce por sua nuca,

Próxima aos cabelos,

E o corpo é público,

Propriedade privada

De privação,

Onde homens, mulheres,

Animais, vegetais, minerais

Revéis, linfáticos, ninfáticos,

Percorrem todo o corpo,

Mesclando os odores

Dos pelos, dos púbis,

Dos mucos, dos sucos,

Das hierarquias e plebes

Destituídas dos tecidos

E das peles.

Ao tocar seu corpo,

Todos os ecossistemas

Ecoam, econômicos,

Extensos, vastos,

Flores do mal

Envenenando de vida

Os templos castos.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

SEM TÍTULO (A LUA, SINCOPADA,)

A lua, sincopada,

Sonha a sobrevivência

Na luz dos vaga-lumes,

Zumbiziguezagueante

Como uma promessa

Intermitente.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

LINGUAGEM SOMBRIA, SECRETA (SEM TÍTULO)

Linguagem sombria, secreta

É dos móveis na noite estática.

Só eles se movimentam, conspirando

Uma secreção do sentido, que estala,

Estufa, imperceptivelmente respira, quente.

Viscosidade que a noite não aclara,

Só sombreia, engolfa, só ajuda

No segredo, o compartilha

Na internalização do escuro.

Que horror do sentido conspira

Em sua suspensão tensa, que adormece?

Que crime, que suspeita sonolência e suavidade?

É dia, e os móveis sonham o sentido

Que lhes damos.

 

domingo, 26 de dezembro de 2021

AUSÊNCIA

A tela de luz que encobre

Também encobrece a nuvem,

Ôfega na sobrevida entardecida,

Ofelina, tentando, voluptuosa,

Contornar um afogamento que,

Na falta de água, é de cor.

Luz poluta, ingênua, assassina

Que se gradua para o luto

Da ausência de cor.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

BLANCHE DU NOIR

A lolita gótica

Descortina a noite,

Encoberta e farmacopornográfica.

Abraça a arlequina,

Vão procurar novas drogas

Com o i-boy,

Ora um Humbert Humbert

Com vocabulário tecnomano,

Ora um clowcel

Que descobriu no tráfico

Um afrodisíaco.

A noite funambula suas camadas,

A superficial, noturna,

A outra, mais noturna, infinita,

A cosplayer, a alucinógena

E alucinada, enfurrycida.

Mais ao longe,

Na saída de um rock pub,

Um sorriso sinaliza

Batom negro, tatuagem facial

Ou mesmo uma gag aranha?

Do chão, a lua cabe na gag

Devoradora que é o sorriso

Que expandiu

Um sonoro sonho momentâneo.

Há algum homem morcego?

Em uma lanchonete

Gourmet artesanal

Uma menina com camiseta

Lésbica heteroflex

Lê no celular o título de um artigo

Sobre punk veganarquista.

Em um café meio sujo,

Uma personagem deslocada,

Como Blanche, lê Blanchot.

Lê o título de uma obra

De Blanchot.

A noite infinita.

O discurso infinito.

Qual o fim da noite

Para se descortinar

A noite sem fim?

A noite blanche

É a cortina entreaberta

Da noite noire,

Investigada até a noite

Mais aberta e mais insondável,

Até a expansão impossível

Da noite...

Noite blanche du noir.