segunda-feira, 28 de abril de 2014

SEM TÍTULO (ME DEPARO COM JESUS CAMINHANDO AO MEU LADO.)

Me deparo com Jesus caminhando ao meu lado.
Orquídeas crescem em seu corpo,
Acentuadamente perfumadas.
Jesus é um orquidário
Acompanhando meus passos
Ora guiados pelo prazer lúdico da blasfêmia.
Ele me conhece, sabe que sou Judas
(Um Judas mais sincero, enfim).
Porém também se soube
Que Judas foi de Jesus o maior aliado.
Jesus é um orquidário caminhante,
E seus cabelos madeixam
A impressão do infinito.
Há beleza em muita coisa:
Jesus caminhando coberto de orquídeas,
Esperma escorrendo da boca de uma mulher,
Um reflexo fazendo de uma unha
O espelho do mundo.
Jesus é mesmo medicinal:
Às vezes parece Buscopan na veia
Aliviando a cólica renal.
Outras vezes parece arnica
Aliviando a dor no pescoço.
E ainda outras vezes parece espinheira santa
Aliviando a gastrite.
Toda conversão deveria ser
Esta conversão também do cotidiano.
Nem só de desejo cósmico vive o homem.
Quando Jesus fala, exala uma orquídea sonora.
Seus olhos de analgésico e de sono carinhoso
Te envolvem em um sentimento ingênuo
Que convive com a inteligência.
Jesus me confessa que os dedos
De Baudelaire quase tocaram o rosto de seu Pai,
E que ele é um espírito de luz.
Também confessa que Sade
Foi um homem interessante.
Um pouco exagerado, mas interessante;
E que ainda está sendo tratado
De algumas obsessões
Que não lhe faziam bem.
Perguntei se no Céu só havia franceses
E ele me respondeu que era óbvio que não.
Por fim, me revela alguns segredos da vida
Meio desinteressantes,
E me diz que o mistério interessa mais.
Sempre que penso em paz e alívio,
Penso em orquídeas.

sábado, 26 de abril de 2014

SEM TÍTULO (A SOMBRA ESTÁ FAMINTA.)

A sombra está faminta.
Com um vago revoluteio
Engole um seio, deixando o outro
Salvo pela resistência da claridade.
É preciso devorar a claridade,
Seu sorriso aberto e salvífico,
Sua vida nervosa, vibrante.
A sombra quer expandir
Sua velhice, sua mordida de paz,
O descanso que é sua fome voraz,
A oferta de sua morte.
A passante, meio de luto,
Dor majestosa e luz cintilante,
Não faz muito caso da luta
Que carrega nos próprios passos. 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

SEM TÍTULO (ISTO É UM POEMA.)

Isto é um poema.
Isto não é um poema.
Isto deve ser um poema.
Isto deve não ser um poema.
Isto deveria ser um poema.
Isto deveria não ser um poema.
Isto pode ser um poema.
Isto pode não ser um poema.
Isto poderia ser um poema.
Isto poderia não ser um poema.
Isto é um poema do poema.
Isto é um poema sem poema.
Isto é um poema ema,
Que esconde sua cabeça.
Ou então é um poema pó,
Que se revela sobre tudo.
Isto é, sobretudo, a fronteira
Entre floema e paralipomena.
Sobrenada na superfície
E também desaba
No abismo mais profundo.

CISMAR

Ciscar o contemporâneo
Como a galinha de Gullar.
Siscar a cisma
Até o cisco no olho
Parar de incomodar...
A crise há de acabar?

quarta-feira, 23 de abril de 2014

ALIMENTO

O farelo de sol,
Na mesa matutina,
Comido junto com o pão,
Opera uma espécie de milagre
Que faz efeito
Se permanece despercebido.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

FATALISMO

Não me olhe
Como se Lolita Slave Toys
Fossem reais.
Mudemos a paisagem.
Faça do olho a própria imagem:
Nervuras em uma floresta
Levemente folheada
Por camadas finas de luz solar
Como sobreposição amanteigada.
Por que tanto medo?
Te preencherei de lirismo,
E nenhum membro amputado
Ou perversidade
Sangrarão nesta floresta quieta.
Continua temendo tanto?
Que seja então a floresta
Arte fractal,
Na qual você é a artista
Em busca de uma poética do olhar.
O medo permanece?
Nem a arte salva?
Nem uma camada de luz
Amanteigada aquece?
Baby, não existe nenhuma Slave.
Mas, está bem...
Sei que tudo é terrível...
Sei que tudo é tão terrível...
Eu sei...

sexta-feira, 11 de abril de 2014

MAIS UM POEMA AMOROSO

Redescubro minha amada
Pelo cheiro da privada.
(Ela cospe em minha comida,
Mas eu gosto de cuspida.
Brinco de cafetão,
E ela de puta de lixão.
Depois, ela de cafetina
E eu de seu cão de esquina.
Temos dúvida entre um filho
E uma pequena plantação de milho.
Em público, às vezes me humilha
Como pai batendo em filha;
Mas é birra de amor,
E toda esta ira e este ardor
São fantasia que mais inflama
Quando a chama chamusca a cama).
- É de pizza este poema,
E até cada morfético morfema
Me lembra dela,
Que minha cueca mela
Desde que estava no cueiro,
Pensando em seu cu no banheiro.